ONU quer investigação “eficaz e transparente” após descoberta de valas comuns
As Nações Unidas pediram na quinta-feira uma “investigação eficaz e transparente” a alegadas mortes ilegais na Líbia depois de terem sido descobertas oito valas comuns numa região que passou para o controlo das forças pró-governamentais.
A 05 de Junho, forças leais ao Governo de Unidade Nacional (GNA), reconhecido pelas Nações Unidas (ONU), expulsaram as tropas rivais de Khalifa Haftar de Tarhuna, da última zona que controlava na zona ocidental do país, que vive mergulhado no caos seu último reduto desde a queda de Muammar Kaddafi em 2011.
Apoiado militarmente pela Turquia, o GNA tomou toda a parte ocidental do país, numa importante vitória contra o Marechal Haftar, o homem forte do leste apoiado pelo Egito e pela Rússia.
Numa declaração, a Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (MANUL) afirmou que “regista com horror as informações sobre a descoberta, nos últimos dias, de pelo menos oito valas comuns, a maioria delas em Tarhuna”, 65 quilómetros a sudeste de Trípoli.
A MANUL apelou para uma “investigação eficaz e transparente às alegadas mortes ilegais”, saudando a criação, pelo Ministério da Justiça da GNA, de uma comissão de inquérito para “guardar as valas comuns, identificar as vítimas, estabelecer as causas de morte e devolver os restos mortais” às famílias.
Um jornalista da Agência France Presse teve acesso ao presumível local de uma vala comum em Tarhuna, onde vários corpos foram descobertos e retirados pelo Crescente Vermelho Líbio, segundo agentes da polícia no local.
Segundo o diretor do hospital público de Tarhuna, Abuarawi al-Bouzedi, 160 corpos foram também descobertos na morgue pelas forças do GNA aquando da sua chegada à cidade.
Os corpos “foram transferidos para Tripoli e Misrata pelo Crescente Vermelho”, disse o diretor do hospital a jornalistas em Tarhuna, sem mais explicações.
Há alguns dias, o MANUL tinha classificado as informações sobre a descoberta de corpos no hospital de Tarhuna como “muito perturbadoras” e apelado à GNA para que iniciasse rapidamente uma investigação imparcial.
Após a captura de Tarhuna, a GNA advertiu as suas tropas contra qualquer ato de represália ou pilhagem, sob ameaça de processo penal, e apelou à proteção da “vida, dignidade e propriedade” dos cidadãos.
O Presidente do Egito, Abdel Fattah el-Sissi, lançou em 06 de junho no Cairo uma iniciativa unilateral para acabar com a guerra civil na Líbia e preparar o caminho para a realização de eleições livres no país.
O plano - que teve a anuência do comandante das forças rivais do governo de acordo nacional (GAN), o marechal Khalifa Haftar, que sofreu duras perdas nas últimas semanas - contemplava um cessar-fogo a iniciar segunda-feira e a formação de um conselho presidencial no qual as três regiões da Líbia estariam representadas e que deveria governar durante um período de transição de um ano e meio, seguido de eleições.
Desde abril de 2019, centenas de pessoas, incluindo numerosos civis, foram mortos nos combates da ofensiva a Tripoli e cerca de 200.000 foram obrigados a fugir.