Portugal e a sua vocação
Podemos e devemos aproximarmo-nos dos Países a que estamos umbilicalmente ligados e concertarmos com eles uma visão estratégica comum assente na Língua Portuguesa e na capacidade que temos de juntos irmos mais longe
Na semana em que se comemora o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, comemoramos também o Dia dos Oceanos (8 de Junho). Sintomático. Para quem não sabe, em 2021 conclui-se o processo que fará com que o nosso País duplique a sua Zona Económica Exclusiva que passará a ser a décima maior do Mundo. Passaremos, assim, a ser compostos 97% de mar muito graças às nossas Regiões Autónomas que ampliam e estendem o nosso território. Este imenso azul que nos servirá de pano de fundo torna-se fundamental por diversas razões. Logo à partida pela nossa vocação marítima, pelas nossas raízes de pescadores e marinheiros. Mas também pela possibilidade de exploração dos imensos recursos naturais ali presentes nas crostas de ferro e manganês de onde se poderá extrair cobalto e telúrio, mas também nos diversos nódulos de níquel cobre e manganês ou ainda do mais que previsível ouro, prata, chumbo e zinco que se escondem ao largo do arquipélago açoriano.
Isto fará de Portugal uma das grandes potências da Economia do Mar ou Economia Azul como alguns lhes chamam. Não só pela capacidade piscatória que será sobejamente aumentada (embora condicionada às regras da UE) ou pela prospeção e exploração dos recursos marítimos anteriormente enunciados. A área da biologia marinha, da preservação de espécies, que através de tecnologia adequada pode levar a um desenvolvimento económico sem paralelo, levando sempre em conta a mitigação e monitorização dos impactos ambientais e a sustentabilidade do oceano. Para termos uma pequena noção da transformação, passaremos a ter uma Zona Económica Exclusiva maior que a do Brasil e do mesmo tamanho que a da Índia.
Precisamos para isso de políticos e agentes decisores comprometidos com o Mar, com os nossos desígnios e com as oportunidades que teremos pela frente. De um olhar mais profundo através da cooperação nesse triângulo estratégico de desafios que nos aproximam da América Latina e de África alicerçados nas criativas e robustas comunidades portuguesas espalhadas um pouco por todo o Mundo e que fazem questão de mostrar orgulho no seu País. Aliar à nossa vocação diplomática de unir povos e culturas e de criar pontes a nossa propensão criativa e construtiva que nos colocou tantas vezes no epicentro da discussão global. Podemos e devemos aproximarmo-nos dos Países a que estamos umbilicalmente ligados e concertarmos com eles uma visão estratégica comum assente na Língua Portuguesa e na capacidade que temos de juntos irmos mais longe.
Este projecto de inquestionável interesse estratégico que nos poderá posicionar na vanguarda do conhecimento e da investigação cientifica, na cooperação institucional, no desenvolvimento sustentável e no domínio da responsabilidade ambiental, encerrará em si um novo paradigma que ao invés de procurar alimentar egos através do aumento da dimensão territorial, servirá um propósito muito mais enriquecedor que nos pode e deve transportar pelos caminhos da contemporaneidade, aliando a Cultura e o Mar tantas vezes parentes pobres da estratégia (ou falta dela...) portuguesa. Ironicamente, poderão ser estes os catalisadores de um projecto de elevado potencial económico que nos deve projectar para aquilo que sempre foi a nossa vocação. Se somos periféricos no que diz respeito à Europa se colhemos muitas vezes dificuldades por fazermos fronteira terrestre com um único país é tempo de nos virarmos para o que nos coloca no centro. A nossa dimensão marítima e o nosso posicionamento estratégico altamente privilegiado que esta extensão da plataforma territorial só ajudará a cimentar. Saibamos nós estar à altura do que aí vem...
“Quando pomos no Mar a nossa embarcação, não somos apenas responsáveis por ela, mas por um inteiro Oceano...”
Cardeal Tolentino de Mendonça