Autoridades procuram grupos extremistas e desinformação nos protestos nos EUA
Autoridades norte-americanas tentaram determinar ontem se grupos extremistas se infiltraram nos protestos em todo o país contra a brutalidade policial, tentando inclinar demonstrações pacíficas para a violência, e se adversários estrangeiros dinamizaram campanhas de desinformação nas redes sociais.
Enquanto as manifestações alastravam de Minneapolis, no Estado do Minnesota, até à Casa Branca, a Nova Iorque e a outros países, alguns responsáveis de autoridades federais dos Estados Unidos insistiram que grupos da extrema esquerda estavam a alimentar a violência.
Enquanto isso, especialistas que acompanham grupos extremistas relataram detetarem também indícios do trabalho da extrema-direita.
Investigadores rastrearam também a interferência ‘online’ e procuraram agentes estrangeiros por detrás dessas interferências. Foi registado um aumento nas contas de redes sociais com menos de 200 seguidores criadas no último mês, um sinal clássico de ações de desinformação.
Essas contas nas redes sociais publicaram imagens gráficas dos protestos, material sobre brutalidade policial e também sobre a pandemia de covid-19, aparentemente destinadas a inflamar tensões na divisão política, de acordo com três funcionários do governo, que falaram com a agência Associated Press, sob condição de anonimato.
As investigações são uma tentativa de identificar a rede de forças por detrás de alguns dos mais sérios surtos de distúrbios nos Estados Unidos (EUA) em décadas.
Na origem dos protestos está a morte do afro-americano George Floyd, de 46 anos, às mãos da polícia na passada segunda-feira, depois de ter sido detido sob suspeita de ter tentado usar uma nota falsa de 20 dólares (18 euros) num supermercado de Minneapolis.
Mas foram relatados casos de graffitis anarquistas, detenções de manifestantes provenientes de estados diferentes daqueles onde se realizavam os protestos e imagens a circular em grupos extremistas que sugerem o envolvimento de atores externos.
O Governador do estado de Minnesota, Tim Walz, disse hoje que as autoridades estaduais foram alvo de um ciberataque enquanto a polícia se preparava para dispersar os protestos em Minneapolis e St. Paul, o epicentro da agitação.
“Antes da nossa operação começar ontem [sábado] à noite, um ataque muito sofisticado foi executado em todos os computadores. Isto não é alguém sentado na sua cave. Foi muito sofisticado”, afirmou Tim Walz, sem revelar mais detalhes.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o procurador-geral, William Barr, e outros disseram que o grupo extremista Antifa é o culpado. Abreviação de antifascistas, Antifa é um termo genérico para grupos militantes da extrema-esquerda que confrontam neonazis e supremacistas brancos em manifestações.
Hoje, Barr disse que o FBI iria utilizar forças regionais anti-terrorismo para “identificar organizadores criminais” e Trump ameaçou novamente classificar a Antifa como grupo terrorista.
Outros viram provas da extrema-direita, como J.J. MacNab, investigadora no Programa de Extremismo da Universidade George Washington, que tem monitorizado conversas sobre os protestos entre extremistas antigovernamentais nas redes sociais.
“Principalmente acho que eles não querem estragar estes protestos. Querem cooptá-los para poderem começar a sua guerra. Eles vêm-se a si próprios ao lado dos manifestantes e consideram que podem ser úteis ao causar anarquia”, explicou MacNab.
A Administração Trump tem permanecido em silêncio sobre os relatos de que manifestantes da extrema-direita também estariam envolvidos.
Enquanto isso, políticos democratas disseram que o tratamento da crise por parte de Trump lembra um dos piores momentos da sua presidência -- quando disse que “havia boas pessoas de ambos os lados”, durante as manifestações de supremacistas brancos em 2017, em Charlottesville, Virginia.