Grande afluência às bombas na Venezuela no dia em que aumentou a gasolina
As estações de serviço na Venezuela registaram hoje grande afluência de viaturas, no dia que a gasolina passou a ser cobrada a preços internacionais e aumentou de 0,0002 para 0,50 dólares (de 0,00018 euros para 0,45 euros) por litro.
Em Caracas, algumas pessoas passaram a noite à espera para encher o depósito de gasolina, nas estações de Mariperez, La Florida, Los Símbolos, em três filas diferentes, a dos cidadãos que pagam em moeda internacional, a dos motociclistas e a de acesso subsidiado.
Em Las Mercedes, uma das bombas mais concorridas de Caracas, a Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) encaminhava os motoristas para as filas correspondentes.
Quem tivesse consigo o Cartão da Pátria (promovido pelo Partido Socialista Unido da Venezuela, PSUV o partido do Governo) poderia obter combustível a 5.000 bolívares soberanos (0,022 euros) por litro.
“Cheguei pelas 05:30 (10:30 em Lisboa) e só às 10:00 (15:00 em Lisboa) consegui comprar gasolina. Tive que pagar em dólares e tudo foi mais fluído que antes”, explicou à agência Lusa o lusodescendente José Freitas.
O lusodescendente acredita que a gasolina a preços internacionais “melhorará” o abastecimento no país, mas diz que é complicado pagar o novo preço.
“É difícil entender que num país produtor de petróleo, onde as pessoas ganham 4 euros de salário mínimo, tenhamos que pagar meio dólar (0,45 euros) por um litro de gasolina, porque é importada”, disse.
José Freitas trabalha na área de informática de uma empresa e “ganha várias vezes o salário mínimo” que equilibra “reparando computadores e analisando sistemas”.
“Tenho um carro há 12 anos que me custa mantê-lo ativo e o aumento da gasolina faz-me aumentar as despesas”, disse, precisando que teme que as coisas subam de preço pelo aumento dos custos de operação e transporte.
A doméstica Idalina Gonçalves esteve hoje numa bomba de La Florida, para saber qual seria o procedimento e o preço.
“Tenho o carro parado há duas semanas por falta de gasolina. Terei que usar menos o carro para reduzir gastos. Irei menos vezes ao supermercado e à padaria. Falta-me ver como farei com os miúdos retomem as aulas (após a quarentena da covid-19)”, disse à Lusa.
As redes sociais dão conta de que em várias regiões da Venezuela, entre elas Guayana (Puerto Ordáz) e Guarenas (670 quilómetros a sudeste e a 40 quilómetros a leste da capital, respetivamente) ocorreram protestos contra o aumento e a falta de gasolina.
Também se registaram longas filas de viaturas por todo o país e muitas estações de serviço estavam encerradas por falta de combustível.
O Presidente Nicolás Maduro anunciou, no sábado, que a partir de hoje o preço do combustível seria afixado pela primeira vez em dólares norte-americanos, com subsídios para alguns setores através do Cartão da Pátria, uma situação que a oposição diz ser discriminadora.
“Chegou a hora de avançar com uma nova política, uma nova realidade”, disse Nicolás Maduro na televisão estatal venezuelana.
O aumento da gasolina ocorre depois de várias semanas de escassez de combustível, devido à impossibilidade das refinadoras locais continuarem a produzir o produto.
A escassez obrigou os motoristas a fazer filas de três e quatro dias para abastecer 20 litros de combustível, muitas vezes sem sucesso.
A escassez paralisou vários setores da economia, principalmente a agricultura.
Apesar de ser possível encher o depósito com menos do que custa uma garrafa de água pequena, no mercado negro cada litro de gasolina chegou a ser vendido por três euros.
Na semana passada chegaram à Venezuela cinco navios com combustível proveniente do Irão, uma operação que foi questionada pelos EUA por alegadamente violar a segurança regional.