Pensamentos cov-II
Até ao aparecimento do vírus a economia portuguesa, incluindo a da região, estava em crescimento impulsionada pelo bom desempenho do sector turístico e, como nos recordamos, tal ficou a dever-se à insegurança causada pela atuação do grupo terrorista islâmico Daesh, no centro da Europa e Médio Oriente, levando a que os turistas procurassem destinos considerados seguros. A segurança é o critério mais importante para os turistas. Com a atual crise o critério é o mesmo só que é exigido para todos os locais onde o turista se movimenta desde a sua origem até ao destino uma vez que o vírus pode atacar em qualquer lado. A questão terá portanto de ser encarada de forma global e não apenas por uma região ou país e, já sabemos que, só quando existir remédio ou vacina eficaz para este vírus a retoma da atividade turística poderá voltar ao que já foi. Este é um setor de elevado risco, causado por choques externos imprevisíveis, pelo que nenhum país ou região deve sustentar a sua economia, de forma excessiva, no mesmo. “Não se deve pôr os ovos todos no mesmo cesto”. Esta é uma das regras de ouro dos investidores para minimizar os riscos dos seus investimentos. Portugal e outros países mais dependentes do turismo serão provavelmente os que levarão mais tempo a recuperar. O país e a região deverão diversificar a sua economia por forma a não estarem tão dependentes de choques externos que abalem a confiança dos agentes económicos. A economia da nossa região padece de um elevado risco de dependência externa que incide sobre os seus três pilares essenciais: turismo (segurança), construção de obras públicas (ajudas externas) e zona franca (vantagens competitivas nas mãos de terceiros). Urge portanto implementar políticas que diversifiquem a economia investindo em setores que proporcionem mais independência como é o caso do sector básico da economia: agricultura, pecuária, fruticultura, pesca e o mar que é a nossa grande riqueza que falta explorar. Isto pode e deve ser feito á custa de muito menos obras públicas por várias razões, inerentes a este sector: demasiada dependência de ajudas externas, endividamento da região apesar das ajudas, fraco retorno, degradação da paisagem e por último a fraca alavancagem provocada nos restantes sectores económicos ao contrário do que seria normal e desejável. As verbas libertadas pela redução das obras públicas seriam aplicadas nos outros sectores. A forte emigração e consequente despovoamento provam à saciedade o falhanço da política do betão. Para que tudo isto mude é preciso dar primazia aos economistas em detrimento dos financeiros. A estes deve competir apenas a avaliação prévia das decisões dos investimentos nos aspetos da rendibilidade, equilíbrio financeiro e impactos sócios económicos na comunidade. Os políticos devem reconhecer a sua ignorância quanto ao modelo económico sustentável e sustentar as suas decisões com base em planos estratégicos de investimentos (médio e longo prazos), elaborados por economistas de reconhecida competência, cuja implementação deverá ser feita por estes para que não sejam posteriormente alterados ou metidos na gaveta por burocratas ou políticos ignorantes. Deve ser nos tempos de crise que devemos refletir o modelo económico vigente alterando-o por forma a ficarmos menos dependentes de terceiros e logo mais próximos da verdadeira autonomia que pretendemos.
Manuel João Baptista Rosa