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Circos criam associação para lutar contra a “indiferença” do Estado

Foto EPA
Foto EPA

A “indiferença” do Estado, nomeadamente a falta de apoio do Ministério da Cultura, levou os circos a criarem a Associação de Defesa das Empresas e Artistas de Circo Portugueses, disse hoje à Lusa o seu porta-voz, Carlos Carvalho.

Para apresentarem a sua arte, os circos portugueses realizam no domingo às 21 horas, em Odivelas, nos arredores de Lisboa, um espectáculo ao ar livre, sem público, mas que será gravados e transmitido ‘online’ através das redes sociais.

No sábado, representantes da associação são recebidos pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

Carlos Carvalho afirmou que, no âmbito da pandemia de covid-19, os circos escreveram ao Ministério da Cultura para procurar sensibilizar sobre a sua situação, “igual à de outros artistas sem poderem actuar”, que lhes respondeu, com data de dia 14 de Abril, para recorrerem aos apoios extraordinários, cujo prazo tinha terminado a 6 de Abril.

Por outro lado, referiu o responsável, os apoios propostos “não se enquadravam” na sua actividade destinando-se a circo contemporâneo, artistas de rua e artes performativas.

“Há muito que não temos acesso aos apoios da Direcção-Geral das Artes”, protestou Carlos Carvalho, referindo em seguida: “Nós somos contemporâneos, somos nós que fazemos hoje o circo moderno, uma tradição com 250 anos”.

Para Carlos Carvalho “há muito que, injustamente, o circo é relegado pelo Estado e não só”.

“O circo português alcançou nove Clowns de Ouro, entregues em Monte Carlo, e ninguém sabe! O artista Ângelo Muñoz, de 80 anos, é o único com um Prémio Carreira entregue também no Mónaco”, disse, salientando que a União Europeia classificou o Circo, em 2018, como Património Cultural Europeu.

As regras praticadas em Portugal para os circos “diferem das habituais noutros países europeus”, disse Carvalho, exemplificando: “As inspecções aos materiais de circo são bienais, em Itália ou França, e com um custo de cerca de 300 euros, em Portugal são anuais e custam-nos cerca de 600 euros”.

No caso dos circos com animais, têm de estar inscritos em dois organismos, na Direcção-Geral de Veterinária e também no Instituto das Florestas e Conservação da Natureza.

Por outro lado, referiu o licenciamento de instalação do circo que é da jurisdição das câmaras “e se um presidente não gosta de circo, as crianças desse concelho não podem ir ao circo, há concelhos há uma década sem circo!”.

A acrescentar a isto, o licenciamento de um circo é no departamento de obras da Câmara, “como um qualquer outro edifício”, e não, “como devia ser, nas actividades culturais”.

Carlos Carvalho fez questão de, entre as autarquias, referir “os bons exemplos” das de Viana do Castelo, Benavente, Figueira da Foz e Vila Nova de Poiares, e as “muitas pessoas que continuam a apoiar o circo, até nesta altura mais complicada”.

Em Portugal, segundo a associação, existem 30 circos, sendo o maior o de Victor Hugo Cardinali, e nos quais trabalham “mais de 200 artistas”.

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