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EUA investigam ex-militar que diz ter participado em ataque a Maduro

Um ex-militar das operações especiais dos EUA que assumiu responsabilidade por uma incursão falhada na Venezuela está a ser investigado por tráfico de armas, de acordo com as autoridades norte-americanas.

Jordan Goudreau, um ex-militar dos “boinas verdes” (uma força especial do exército dos EUA) fez declarações contraditórias sobre a sua participação numa recente tentativa de derrube do regime venezuelano de Nicolas Maduro, dizendo que aconselhou um pequeno grupo de combatentes voluntários nessa invasão falhada, a mando do líder da oposição venezuelana, Juan Guaidó.

O Presidente da Venezuela disse segunda-feira que dois cidadãos dos EUA foram detidos como parte de um grupo descrito pelo executivo como mercenário, envolvido num ato que Nicolás Maduro afirmou ter o intuito de o matar.

Na terça-feira, o Presidente Donald Trump negou qualquer envolvimento dos EUA nestes ataques e desmentiu as declarações de Nicolas Maduro sobre a presença de veteranos militares alegadamente ligados a uma empresa de segurança norte-americana.

Mas, entretanto, o ex-militar Jordan Goudreau, que tem uma empresa de segurança com sede na Florida, admitiu ter estado a formar alguns dos elementos que participaram na tentativa de ataque a Maduro.

As autoridades dos EUA dizem que Goudreau não agiu a mando do Governo de Trump e acrescentam mesmo que ele está a ser investigado por tráfico de armas, numa fase ainda inicial do processo judicial.

O Congresso norte-americano já perguntou ao Departamento de Estado se teve conhecimento dos planos de Goudreau, depois de o secretário de Estado, Mike Pompeo, ter negado qualquer envolvimento dos Estados Unidos no golpe na Venezuela.

Os congressistas manifestaram ainda preocupação com a possibilidade de o ex-militar ter violado leis sobre tráfico de armas.

Uma investigação da agência Associated Press publicada antes do ataque fracassado na Venezuela coloca Goudreau no centro de um plano gizado com um ex-general rebelde do exército venezuelano, Cliver Alcalá, para treinar secretamente dezenas de militares desertores, em campos secretos na Colômbia.

O objetivo desse treino era preparar os combatentes para uma operação rápida contra o regime de Nicolas Maduro.

Goudreau seria um dos formadores desses campos na Colômbia, através da sua empresa, Silvercorp USA, com sede na Florida.

Contudo, o plano parecia condenado desde o início, pois não tinha o apoio do Governo do Presidente norte-americano, Donald Trump, além de que foi infiltrado por agentes de serviços de informação de Nicolas Maduro, treinados por soldados cubanos.

A admissão de responsabilidade de Goudreau no golpe falhado na Venezuela levaram as autoridades norte-americanas a investigar a possibilidade de o ex-boina verde ter violado leis de tráfico de armas.

“Os comentários públicos de Goudreau revelam que ele estava a exportar a sua experiência militar para um país estrangeiro”, disse Sean McFate, um ex-paraquedista dos EUA que estuda o género de empresa dirigida pelo ex-boina verde.

As autoridades nos EUA dizem que a investigação sobre o envolvimento de Goudreau no possível tráfico de armas foi suscitado por uma apreensão de equipamento militar na Colômbia, no passado dia 23 de março.

O equipamento, no valor de cerca de 150 mil euros, incluía óculos de visão noturna, transcetores de rádio e 25 espingardas de assalto fabricadas nos EUA, com os números de série apagados.

As autoridades da Colômbia também estão a investigar Goudreau, no âmbito de uma operação sobre a origem das armas apreendidas.

Este caso está a preocupar o Congresso norte-americano, que entrou em contacto com o Departamento de Estado para tentar perceber as ligações de Goudreau e se as suas ações terão violado as leis federais e se o Governo estaria relacionado com este ataque contra o regime de Maduro.

Mas ainda hoje o secretário de Estado Pompeo repetiu a mensagem antes divulgada pelo Presidente, logo a seguir às declarações de Nicolas Maduro, de que o Governo norte-americano nada teve a ver com esse ataque.

“Se tivéssemos estado envolvidos, o desfecho teria sido bem diferente”, disse Pompeo, numa conferência de imprensa.

Goudreu, que foi condecorado por três vezes quando pertenceu às forças especiais dos EUA, diz que o seu trabalho na Colômbia se limita a ser conselheiro, o que não obriga a qualquer autorização por parte do Governo.

Ainda assim, Goudreau reconheceu que enviou para a manobra de ataque dois outros antigos boinas verdes associados à sua empresa -- os elementos que Nicolas Maduro apresentou como sendo combatentes a soldo do Governo dos EUA.

Nicolas Maduro referiu a existência de dois norte-americanos, entre o grupo detido, que trabalhariam para o Governo dos Estados Unidos.

“Nesse grupo, havia membros da equipa de segurança de Donald Trump: Airan Berry, um mercenário profissional dos Estados Unidos, e Luke Denman”, afirmou Maduro numa mensagem televisionada.

Para adensar ainda mais a história, Goudreau confessou que foi contratado por Juan Guaidó, o líder da oposição na Venezuela, que é reconhecido pela comunidade internacional, incluindo os EUA, como o legítimo Presidente interino daquele país sul-americano.

Para apoiar esta versão, Goudreau apresentou um contrato de oito páginas que contém o que parece ser a assinatura de Guaidó.

Contudo, Guaidó já negou ter algum envolvimento no ataque contra Maduro.

“A ditadura insiste em mentir”, disse Guaidó, para rejeitar as acusações feitas pelo Presidente eleito sobre a sua responsabilidade no ataque.

Por outro lado, as declarações de Goudreau estão cheias de contradições, já que numa recente entrevista televisiva, com um jornalista venezuelano exilado em Miami, disse que “nunca ganhou um cêntimo” com o seu trabalho na América Latina, contrariando a tese de estar a trabalhar a soldo de Guaidó.

Isto apesar de um consultor de Guaidó em Miami ter confessado que pagou cerca de 50.000 euros a Goudreau, para cobrir despesas do trabalho efetuado na Colômbia.

Há ainda provas de que Guaidó conhece Goudreau, aparecendo junto ao ex-militar numa videoconferência gravada.

“Vamos trabalhar”, diz uma voz parecida com a de Guaidó que aparece nessa videoconferência, embora não seja mencionada nenhuma operação militar.

Contudo, fontes próximas do processo dizem que o acordo entre Guaidó e Goudreau terminou algum tempo depois, quando o líder venezuelano percebeu que o ex-militar dos EUA não conseguiria cumprir os termos do acordo celebrado.

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