Oração de pobres e o essencial do Reino de Deus
A coincidir com a crise viral, a Igreja convida à oração a pedir que mais ceifeiros jovens e adultos se desprendam do não essencial e sigam Cristo. Em tempo de pandemia será oração de pobres a pedir a palavra de Deus a juntar ao pão do corpo; nem só do pão e consumismo vive o homem. Poucas vocações? Sim, Cristo só quer os que querem. A interrogação agora repetida é sobre o que mudará a seguir a esta pandemia. A questão já afirma que se espera mudança e ainda bem. Triste, se tudo voltasse ao mesmo.
A oração pela Igreja e pela humanidade em crise já pede mais vocações de padres, religiosos e religiosas, consagrados, batizados no Reino de Deus, «neste mundo, não deste mundo». No dia da mãe pede-se, também, pais e mães para a Igreja. Esta oração de pobres já se faz há cerca de dois meses, como prece de socorro. A mais simbólica ocorreu na Praça de S. Pedro no dia 27 de março passado, quando o Papa se apresentou diante de Cristo crucificado e de sua Mãe. Despojado de todo o aparato grandioso de muitos séculos, fez oração de pobre. Privado das grandezas do número de pessoas, das palmas de aplauso, ruídos e sorrisos de alegria e de cantos solenes. “Empobrecido” do não essencial, diante de Cristo doloroso, também despojado de tudo, até da vida humana, na cruz, faz a oração de mendigo, chorosa, tocante e autêntica, caída como surpresa evangélica sobre toda a Igreja e humanidade aflitas com as dores do covid-19. Neste tempo de aflição, muitas outras orações de pobre se vêm sucedendo em toda a Igreja. A santa Missa celebrada com a presença de poucos, e de sacerdotes sozinhos; tantos a rezar o terço a invocar a Mãe Dolorosa; pequenas parcelas da comunidade cristã, unidas, à distância, ao Senhor da misericórdia, implorando, como mendigos, saúde própria, de familiares e amigos, misturando preces com lágrimas pelos seus entes queridos, sem os poderem chorar com os amigos que desejariam ser conforto na oração exequial. Oração de pobres, longe de igrejas materiais, privada das roupagens, paramentos, flores, coros, órgãos, harmonias e polifonias festivas, de louvor ao Senhor ressuscitado, o Bom Pastor. Orações que são gestos de pobres que querem manter o essencial de estar com o Senhor, mesmo junto à cruz a dizer como sua Mãe que confiam mais Nele que em todas as coisas que impediriam adorá-LO, em primeiro lugar e acima de tudo. O único essencial é o Senhor e Ele esteve presente com cada dois ou três em oração (Mt 18.20). Só com Ele temos tudo o que é essencial. Todas estas diferenças do antes e do agora, convidam para as surpresas de viver com menos coisas, não essenciais, para que irmãos mais pobres tenham ao menos os bens essenciais com algum conforto. O desafio, que o vírus pede a todos, é aceitar as surpresas do Senhor da história. Vão surgir surpresas que ninguém está em condições de adivinhar apesar dos palpites e belas análises e perspetivas dos cientistas. Desejar e aceitar que nem tudo volte ao mesmo já será uma graça da oração de pobre. Outra será a de acreditar que nada do essencial faltará a cada pessoa, à Igreja e à humanidade. A oração é um dos dons essenciais. Orar vem de os, oral, (boca, os, oris, em latim), parente de ad-orare, estar atento à boca de Deus (de Jesus Cristo), donde sai a sua palavra de vida. “Nem só do pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus” (cf. Mt 4, 4), respondeu Jesus ao diabo tentador no deserto da sua austeridade, pondo ordem no que é e não é essencial; e no que é prejudicial, como os espalhafatos de tentar a Deus (Mt, 4,7). O mesmo demónio não deve ter gostado de ouvir de Jesus, o dito também para nós, à terceira vez, que só ao Senhor teu Deus adorarás (Mt 4, 10). Só dele receberás o ensino essencial quando te prostrares diante Dele para orar e O ad-orar. Aceitemos então rezar deste modo por mais consagrados e mães neste tempo de Covid, covida com o Senhor.