Agências de bandas procuram alternativas para evitar cortes nos cachês
Agências de músicos estudam alternativas para que a redução das lotações nas salas de espetáculos não afete os artistas, seja através de parcerias com marcas, formações reduzidas ou espetáculos intimistas, mas admitem que os cachês poderão sofrer um corte.
Rafaela Ribas, diretora da Firma, não registou qualquer mudança no cachê dos músicos e bandas que agencia nos espetáculos que foram adiados, seja com promotores privados ou públicos, mas admite que as propostas que agora surjam possam ser diferentes, após a divulgação das novas regras que limitam as lotações das salas de espetáculos e espaços ao ar livre devido à pandemia da covid-19.
No entanto, considera que haverá “formas criativas de fazer as coisas, mantendo os cachês”, notando que “há marcas disponíveis para colmatar a diferença entre os bilhetes vendidos e os não vendidos [face à redução da lotação dos espaços]”.
“Temos que repensar muita coisa”, disse, referindo que está também a ser discutido com os artistas o que podem oferecer de diferente face às circunstâncias.
João Vaz Silva, que agencia artistas como Bruno Pernadas e Noiserv, constatou que “pé ante pé algumas salas e programadores querem ganhar a confiança do público” e começa a ser abordado para “eventos em espaços mais reduzidos, mais acústicos, com menos pessoas em palco”.
“Tenho tido novos pedidos para formações reduzidas de artistas com quem trabalho”, notou o agente, salientando que há um esforço dos dois lados - promotores e artistas e agências - para adaptarem-se à situação.
Relativamente a cachês, João Vaz Silva frisa que, para artistas emergentes ou independentes, “é muito complicado chegar a um valor justo”, não fazendo sentido baixar esse montante.
No entanto, perspetiva uma “luta agora feroz” para convencer “programadores em apostar em nomes menos óbvios porque os ‘slots’ [lugares] vão ser menos”.
Com uma redução da lotação das salas de espetáculos face à pandemia da covid-19, os agentes contactados pela agência Lusa acreditam que poderá haver alterações nas propostas que recebam de promotores e produtores, mas esperam que pelo menos os espaços com gestão ou apoios públicos permitam segurar os valores anteriormente praticados.
“Vamos ver como vamos abordar o setor privado e como vamos alugar uma sala de espetáculos e como a vamos rentabilizar, mas depois a questão do poder camarário é que nos parece que, se calhar, poderá assegurar que não há uma quebra tão grande nos cachês, seja por direito, seja por dever”, afirmou à agência Lusa o diretor da Arruada, Pedro Trigueiro.
Para Pedro Trigueiro, terão que se encontrar “modelos para que se possa trabalhar”, admitindo que poderá haver alguma baixa de cachês que será retomada quando a situação estiver normalizada.
Já o aumento do preço do bilhete para garantir o mesmo cachê é uma ideia que não agrada ao responsável da Arruada.
“O aumento do bilhete agora vai gerar um efeito de bola de neve que me parece quase ‘kamikaze’. A confiança não é muita, o desemprego aumentou, se se for a avançar por aí alguém não parou para pensar”, vincou.
João Silva, responsável da Blue House, afirma que “a maneira mais fácil de resolver isto mas não a melhor será renegociar os cachês, mas, em muitos casos, os valores já não são altos e já estão ali na linha”.
“Felizmente, há estruturas a repensar a forma de programar”, observou, frisando que, no caso da Blue House, estão a falar com os artistas e bandas para “tentar juntar mais qualquer coisa à experiência que o público vai ter”.
“O início da reprogramação será um momento especial para as pessoas que vão ter acesso a esses concertos e espetáculos”, explicou.
Ao mesmo tempo, a agência está também atenta e sensível à situação de salas de concertos mais pequenas que fazem parte de uma rede de programação informal mais alternativa pelo país fora e que poderão ter agora um máximo de 20 ou 25 pessoas no espaço.
“Mesmo só tendo 25 pessoas, estamos a tentar ver. Sabemos que as condições não são as ideais, que os bilhetes não podem ser a um preço exorbitante, mas não podemos deixar essas salas cair, porque precisam de nós nesta altura e precisam de vida e de dizer que estão abertas”, salientou.
No caso da editora Omnichord, que faz o agenciamento dos seus artistas, os músicos que representa “estão projetados para uma sala de 700 ou 800 lugares, que facilmente poderão atuar para metade das salas, nem que se façam duas sessões em vez de uma”, disse à agência Lusa o responsável da editora, Hugo Ferreira.
“Estamos dispostos a essa situação”, referiu, considerando que as regras divulgadas esta semana já tornam mais fácil pensar na retoma de espetáculos, ao invés das propostas que circulavam antes que anteviam um corte para “um oitavo ou um décimo” da lotação das salas.
Hugo Ferreira acredita que, nesta fase, a maioria da retoma decorrerá em salas com apoios públicos ou teatros municipais - uma visão corroborada por outros agentes contactados -, esperando que não haja grandes alterações nos cachês, mas antes outras formas de abordar o agenciamento dos músicos, nomeadamente a contratação em ?pack’, permitindo a partilha de estruturas por diferentes bandas.
“Não estamos a falar de saldos ou descontos”, vincou o responsável da Omnichord.