Sardoal tem infectados sem realmente os ter e receia o que pode vir de Lisboa
Numa altura em que Lisboa e Vale do Tejo é o principal foco da pandemia, Sardoal, integrado nesta região de saúde, tem oficialmente dois casos, mas na realidade nenhum residente no concelho teve covid-19, segundo o município.
O presidente da Câmara do Sardoal, no distrito de Santarém, Miguel Borges, soube na quinta-feira que o concelho somou a sua segunda ocorrência de um cidadão com covid-19 e, também pela segunda vez, relativo a um caso a que chama “covid fiscal”.
Trata-se de um cidadão que reside em Lisboa, mas que não alterou o seu domicílio fiscal, que é o que conta para as tabelas da Direção-Geral da Saúde (DGS), que por isso o atribuiu ao concelho, embora, na realidade, segundo o autarca, este território não tenha até agora nenhum caso da doença entre os seus residentes.
O mesmo acontece no município de Constância, que tem três casos atribuídos, mas relativos a pessoas que há muito não moram ali, afirmou à Lusa a Delegada da Saúde do Médio Tejo, Maria dos Anjos Esperança.
Sardoal e Constância, no distrito de Santarém, são dois dos mais de 50 municípios que fazem parte da região de saúde de Lisboa e Vale do Tejo (LVT), mas quando se fala na região de Lisboa pode estar-se muito longe da capital.
Esta região engloba a área metropolitana (18 municípios), as comunidades intermunicipais do Oeste (12), da Lezíria do Tejo (11) e do Médio Tejo (com um total de 13 municípios, mas Vila de Rei e Sertã, no distrito de Castelo Branco, já pertencem à região Centro), com concelhos dos distritos de Lisboa, de Santarém, parte dos distritos de Setúbal e de Leiria.
A região tem grande diversidade, com zonas rurais e urbanas, outras sobretudo de empresas e de serviços, e aglomerados de população que vão desde os 6.013,60 habitantes por quilómetro quadrado em Odivelas até aos 12,40 habitantes por quilómetro quadrado na Chamusca, de acordo com a plataforma Eyedata, que reúne dados de organismos oficiais.
A região registava um total de 10.320 casos e 340 óbitos na quinta-feira e Lisboa, com 2.290, é o concelho com mais infetados do país.
Grande parte dos casos localizam-se nos concelhos metropolitanos à volta da capital, crescendo ao ritmo de 200 a 300 novos por dia: Sintra tinha 1.173 casos, Loures 934, Amadora 753, Cascais 542 e Odivelas 506.
Apesar de inserido na LVT, Sardoal, cerca de 3.800 utentes de saúde, é uma zona rural, a mais de uma hora e meia de carro de Lisboa por autoestrada. Tem 40,6 habitantes por quilómetro quadrado (113,64 é a média nacional), uma elevada taxa de idosos (26,02 habitantes em cada 100 têm mais de 65 anos) e uma baixa taxa de jovens (apenas 10,06% da população tem menos de 15 anos).
Como os idosos são uma população de risco, seria bom que a pandemia não chegasse ali, mas Miguel Borges destaca que já está perto, a seis quilómetros, onde esta semana foram identificados 17 infetados num foco de um lar ilegal no Carvalhal, já em Abrantes.
“Uma das pessoas que vieram aqui a uma matança de um porco era positiva e pensamos que tenha sido o início [deste foco]. Embora anteriormente também tenha vindo para um funeral uma pessoa positiva de Lisboa”, diz a delegada da Saúde, salientando que os casos por concelho “são muito poucos” no Médio Tejo.
Outro foco com origem em Lisboa, sublinhou, está no Entroncamento, onde 16 casos estão relacionados com o surto na plataforma logística da Azambuja.
“As pessoas que vão trabalhar a Lisboa residem muito no Entroncamento e os casos do Entroncamento estão relacionados com este surto”, disse.
O receio é que os focos da covid-19 junto à capital possam espalhar-se.
Depois de terem iniciado testagem nos profissionais dos lares e das creches, o destaque nas preocupações das autoridades de saúde vão para o foco na plataforma logística na Azambuja e para pelo menos dois bairros social no Seixal, um dos quais o da Jamaica (16 infetados), depois de praticamente resolvido o caso dos requerentes de asilo em ‘hostels’ de Lisboa.
Segundo a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, na conferência de imprensa de quinta-feira, na região de Lisboa a doença está dentro do expectável, a atingir sobretudo pessoas mais desfavorecidas, precários infetados em contexto laboral, migrantes, jovens adultos saudáveis, que não precisam de internamento.
Na plataforma logística da Azambuja foram infetados pelo menos 182 trabalhadores, 175 dos quais na Sonae MC, e pelo menos 16 deles vinham todos os dias do Entroncamento, uma viagem de comboio de pelo menos 53 minutos.
Um estudo desenvolvido pela COTEC e Universidade Nova de Lisboa aponta que o pico da pandemia em LVT deverá ocorrer na terceira semana de junho, com especial incidência nos municípios de Alenquer, Amadora, Barreiro, Loures, Odivelas, Seixal, Sintra e Lisboa.
Para achatar este pico tardio em Lisboa, em locais como o Bairro da Jamaica estão a ser tomadas medidas como o encerramento de cafés, evitando ajuntamentos de pessoas, enquanto se estudam outras soluções para ajudar a controlar a pandemia na capital.
Em Sardoal, segundo o autarca, vão manter-se para já as mesmas medidas de precaução dos últimos meses, seja qual for a próxima fase de desconfinamento decidida pelo Governo.