>
Mundo

Bolsonaro acusa imprensa de se vitimizar após recusar cobertura na sequência de agressões

Foto EPA
Foto EPA

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, acusou hoje alguns jornais de se vitimizarem após terem anunciado a suspensão da cobertura jornalística junto à residência oficial do chefe de Estado na sequência de agressões e falta de segurança.

“[Os jornais] estão a vitimizar-se. Quando levei a facada [em 2018], não falaram nada. Não vi ninguém da Folha [de S.Paulo] a perguntar ‘quem matou Bolsonaro?’. Se forem procurar o número de horas que a Globo deu para a Marielle [Franco, vereadora assassinada em março de 2018] e para o meu caso, acho que dá 100 contra um, mas tudo bem”, disse o Presidente em frente ao Palácio da Alvorada, a sua residência oficial em Brasília, capital do país.

Na segunda-feira, vários jornais brasileiros, como a Folha de S.Paulo e o Grupo Globo, anunciaram a suspensão da cobertura jornalística junto à residência oficial do Presidente do Brasil, com a medida a ser justificada pelas agressões a jornalistas e falta de segurança.

Todos os dias, apoiantes de Bolsonaro ficam ao lado dos jornalistas, em frente ao palácio, onde o Presidente brasileiro cumprimenta frequentemente os militantes e presta declarações à imprensa.

Separados apenas por uma grade, os jornalistas têm sido alvo, com cada vez mais frequência, de agressões por parte dos apoiantes do chefe de Estado.

Na segunda-feira, após críticas do Presidente à imprensa, apoiantes de Bolsonaro hostilizaram os profissionais da comunicação social. Os elementos da segurança no local não intervieram.

Face ao ocorrido, o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, o maior grupo de media e comunicação do Brasil, transmitiu ao ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, a decisão de cancelar a cobertura jornalística no Palácio da Alvorada.

“É público que o Presidente da República na saída, e muitas vezes no retorno ao Palácio, desce do carro e dá entrevistas, bem como cumprimenta simpatizantes (...). Entretanto, são muitos os insultos e os apupos que os nossos profissionais vêm sofrendo dia a dia por parte dos militantes que ali se encontram, sem qualquer segurança para o trabalho jornalístico. Estas agressões vêm crescendo”, de acordo com o comunicado do Globo.

“Assim, informamos que a partir de hoje [segunda-feira] os nossos repórteres, que têm como incumbência cobrir o Palácio da Alvorada, não mais comparecerão àquele local na parte externa destinada à imprensa. Com a responsabilidade que temos com os nossos colaboradores, e não havendo segurança para o trabalho, tivemos de tomar essa decisão”, concluiu a nota, assinada por Paulo Camargo.

Também o jornal Folha de S.Paulo, um dos de maior circulação do país, comunicou que a cobertura jornalística no local está suspensa até que o Governo garanta a segurança dos profissionais de imprensa.

Após acusar a imprensa de se vitimizar, Bolsonaro argumentou que nunca promoveu nenhum ato contra os media e que defende um jornalismo livre: “Nunca persegui ninguém, nunca pedi o controlo da media, mas o ditador sou eu”, disse.

Hoje, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência informou, em comunicado, que continuará a aperfeiçoar a segurança do local.

Em janeiro, a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) do Brasil responsabilizou Jair Bolsonaro por 58% dos 208 ataques ocorridos em 2019 contra jornalistas e órgãos de comunicação social.

Desde a campanha eleitoral, que o levou à vitória nas eleições de 2018, Bolsonaro tem mantido um confronto aberto com os principais meios de comunicação social brasileiros, como a TV Globo, o Folha de S.Paulo ou a revista Veja.

Fechar Menu