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Endividamento vai criar onda de ‘defaults’ a médio prazo

Foto Shutterstock
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A consultora Economist Intelligence Unit (EIU) alertou hoje que o endividamento que os países estão a assumir vai originar um conjunto de ‘defaults’ a médio prazo, destacando a importância da China enquanto maior credor mundial.

“Os países mais pobres vão sair da crise do coronavírus ainda mais endividados, o que levanta preocupações sobre a capacidade de pagarem a dívida externa se não houver um plano mais abrangente de alívio da dívida”, escrevem os analistas num relatório sobre o impacto económico e no endividamento para combater a covid-19.

No relatório, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a EIU escreve que “os ‘defaults’ [Incumprimento Financeiro] podem não acontecer este ano, mas são prováveis entre os países pobres a médio prazo”.

Em causa está o forte endividamento dos últimos anos e o impacto das medidas de combate à pandemia, além da recessão mundial que afetou a procura internacional e deixou os países mais vulneráveis sem receitas e com um acréscimo de despesa pública num contexto de congelamento da economia.

“A maioria do novo financiamento, apesar de ser feito em termos concessionais [abaixo das taxas de juro comerciais], vai ser acrescentado às contas públicas das economias emergentes e, para além disso, o pacote de assistência do G20 é um adiamento e não um perdão; os pagamentos da dívida vão continuar a ser devidos e continuar a acumular juros ao longo do tempo”, alertam os analistas económicas da revista britânica The Economist.

No relatório, a EIU considera que o cenário mais provável para a reestruturação da dívida é que seja feita caso a caso e não através de um enquadramento genérico, e acrescenta que a participação dos credores privados nas iniciativas de alívio da dívida será complicada.

“Acrescentar os credores privados ao conjunto das ajudas daria um impulso substancial, mas isto é improvável, além de ser ainda pouco claro se os fundos de investimento privados podem aceitar uma reestruturação da dívida, e se sim, em que termos”, lê-se ainda no relatório.

Sobre a China, que segundo um relatório do Instituto Kiel é credora de 380 mil milhões de dólares [344 mil milhões de euros], o que compara com os 246 mil milhões de dólares [223 mil milhões de euros] devidos ao Clube de Paris, a EIU afirma que terá um papel fundamental neste contexto.

“Os valores em dívida, e a grande exposição à China, aumentaram nos últimos anos devido aos apoios financeiros prometidos pela China, especialmente nos países africanos; não é claro, ainda, se a China vai concordar com a renegociação dos empréstimos, pode aceitar adiar parte da dívida”, dizem.

“S a dívida não for reestruturada ou paga, a China pode tentar confiscar alguns bens dos seus devedores, como fez com um porto no Sri Lanka em 2018, o que, a médio prazo, só aumenta a dependência dos países mais pobres”, concluem os analistas.

O relatório da EIU surge na mesma altura em que a Comissão Económica para África das Nações Unidas (UNECA) tem estado a manter reuniões com os ministros das Finanças africanos, na sequência da discussão pública que tem existido nos mercados financeiros africanos sobre como os governos podem honrar os compromissos e, ao mesmo tempo, investir na despesa necessária para conter a pandemia da covid-19, cujo número de mortos em África já ultrapassa os 3.500, em quase 120 mil casos registados.

A assunção do problema da dívida como uma questão central para os governos africanos ficou bem espelhada na preocupação que o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial dedicaram a esta questão durante os Encontros Anuais, que decorreram em abril em Washington, nos quais disponibilizaram fundos e acordaram uma moratória no pagamento das dívidas dos países mais vulneráveis a estas instituições.

Em 15 de abril, também o G20, o grupo das 20 nações mais industrializadas, acertou uma suspensão de 20 mil milhões de dólares, cerca de 18,2 milhões de euros, em dívida bilateral para os países mais pobres, muitos dos quais africanos, até final do ano, desafiando os credores privados a juntarem-se à iniciativa.

O setor privado, liderado pelo Instituto Financeiro Internacional, tem mantido reuniões com os ministros das Finanças africanos e fará na quinta-feira uma conferência de imprensa para dar conta do progresso nas negociações sobre a reestruturação da dívida.

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