Um mês após a estreia, alunos continuam a ver aulas na televisão
Depois do sucesso inicial das aulas do #EstudoEmCasa, pais e diretores escolares fazem um balanço positivo do primeiro mês de aulas na televisão e acreditam que a ferramenta continua a ser utilizada no ensino à distância.
As aulas de apoio através da televisão para os alunos do Ensino Básico arrancaram em 20 de abril, durante o estado de emergência devido à pandemia de covid-19, e nesse dia a RTP Memória foi “líder de mercado” entre as 09:00 e as 11:20, com 16,3% de ‘share’ [quota de mercado].
Cerca de um mês depois, os diretores escolares acreditam que o projeto do Ministério da Educação, em parceria com a RTP, continua a ser aproveitado pelos professores como uma ferramenta complementar ao ensino à distância.
“Depende das planificações que os professores fizerem, mas eu estou convencido que o grosso dos professores está a aproveitar esse recurso”, disse à Lusa o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP), Filinto Lima.
A transmissão televisiva de conteúdos educativos foi uma das propostas do Governo para mitigar as dificuldades de acesso ao ensino, em tempos de trabalho à distância, dos alunos mais carenciados, que não tinham acesso a computadores ou Internet em casa para acompanhar as aulas ‘online’.
No entanto, a iniciativa foi bem recebida por muitos dos professores, que incluíram a ferramenta nas suas planificações para o 3.º período, em que os alunos vão continuar a estudar a partir de casa.
Segundo os presidentes da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap) e da Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE), cerca de um mês da primeira aula, os alunos continuam a assistir diariamente ao #EstudoEmCasa, mas os pais alertam para alguns problemas.
Para o presidente da CNIPE, o principal problema destas aulas já existia quando a iniciativa foi lançada e mantém-se cerca de um mês depois: é que durante as emissões, explica Rui Martins, os professores projetam exercícios, mas nem sempre os leem, deixando apenas a imagem e, por isso, a tradução para os alunos cegos não é assegurada.
“Há um esforço por parte dos professores para tentar minimizar isto, mas a todo o instante há situações em que os alunos cegos não podem acompanhar”, lamenta, reforçando, no entanto, que o balanço geral é positivo.
Por outro lado, para Jorge Ascenção, da Confap, o principal problema tem, sobretudo, a ver com o atual modelo de ensino à distância.
“O #EstudoEmCasa implica que o professor tenha com os seus alunos um contacto de proximidade, é preciso auxiliar e apoiar em dúvidas, e até propor exercícios com base daquilo”, explicou o representante dos pais.
Segundo Jorge Ascenção, continuam a registar-se casos em que este acompanhamento por parte dos docentes é “muito espaçado”, o que coloca em causa as vantagens das aulas transmitidas na RTP Memória. E este pode ser um dos motivos para a eventual menor adesão dos alunos a esta ferramenta.
No dia em que arrancou o projeto de ensino à distância, “a RTP Memória foi o canal mais visto junto do ‘target’ 04-14 anos, registando 42,3 mil espetadores e uma quota de 14,3%”, afirmou na altura a estação em comunicado.
No entanto, as audiências do canal estabilizaram depois do sucesso da estreia das aulas do #EstudoEmCasa, segundo dados disponibilizados à Lusa pela RTP, mas pais e diretores apontam curiosidade inicial do público como uma das possíveis explicações.
“No início houve uma enorme curiosidade pelas aulas e até de pessoas que não tinham nada a ver com a escola e estiveram a assistir às aulas”, explicou o presidente da Associação Nacional dos Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, contando que o relato dos professores é o de uma grande adesão.
Segundo Manuel Pereira, o balanço dos professores tem sido “muito positivo” e os docentes têm elogiado o “trabalho fantástico” daqueles que trocaram as salas de aula habituais pelos estúdios da RTP.
“Claro que num futuro próximo, se for necessário continuar a recorrer, haverá outro tempo para tentar organizar algumas disciplinas de outra forma, planificar o trabalho de outra forma, mas, para já, acho que a avaliação possível é uma avaliação muito positiva”, sublinhou.
Portugal entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.
O Governo aprovou novas medidas que entraram em vigor na segunda-feira, entre as quais a retoma das visitas aos utentes dos lares de idosos, a reabertura das creches, aulas presenciais para os 11.º e 12.º anos e a reabertura de algumas lojas de rua, cafés, restaurantes, museus, monumentos e palácios.
O regresso das cerimónias religiosas comunitárias está previsto para 30 de maio e a abertura da época balnear para 06 de junho.