Estudantes que regressaram aos Açores não conseguem chegar a casa
Vários jovens açorianos que estudam no continente estão sem conseguir chegar à sua ilha de origem, estando retidos em São Miguel, e queixam-se de serem prejudicados pela “desorganização” e “desnorte” das entidades oficiais.
Em declarações à agência Lusa, Susana Silveira, natural de São Jorge, disse que esteve dois meses fechada num apartamento, desde 12 de março, a “cumprir com as recomendações do Governo dos Açores” para não regressar à região.
Contudo, percebeu que “não iria existir nenhuma solução para estudantes” e optou então por regressar a casa, “predisposta a fazer a quarentena em hotel, conforme o estipulado”.
A estudante de Animação Turística na Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar - Politécnico de Leiria chegou a São Miguel em 12 de maio e foi instalada numa unidade hoteleira de Ponta Delgada para realizar a sua quarentena até 26 de maio, tendo realizado o teste à covid-19, que resultou negativo, em 14 de maio.
No dia seguinte foi informada pela Direção Regional da Saúde que, na sequência de uma decisão judicial, estaria “livre para sair do hotel”, uma vez que a obrigatoriedade de realizar quarentena tinha terminado.
Já teve voo marcado na SATA, que está a realizar viagens interilhas, mas não conseguiu regressar a casa, em São Jorge, por “desentendimentos entre a Direção Regional de Saúde e a SATA”, havendo “outras colegas naturais da ilha na mesma situação”, no seu hotel.
Desde esta data, Susana Silveira tenta regressar a São Jorge mas tem sido envolvida numa “autêntica novela” entre a Direção Regional da Saúde, a SATA e delegado de saúde de São Miguel, que “remetem responsabilidades uns para os outros”, sendo “evidente a desorganização e desnorte do Governo dos Açores”.
“Até hoje estamos sem respostas, sem nenhum email por parte da Direção Regional da Saúde a explicar o que se passou, a assumir o erro ou, no mínimo, um pedido de desculpa. Nada. Sabemos que é uma situação nova para todos, inclusive para nós, mas apenas pedimos algum tipo de informação e explicação. Será que não temos esse direito?”, questiona a jovem estudante.
Natural da Madalena do Pico, Carlota Marcos também estava em Lisboa e resolveu voltar aos Açores, tendo ficado de quarentena num hotel de Ponta Delgada, desde 10 de maio, e feito o despiste da covid-19.
“Até agora” não recebeu o resultado, que, sublinha, deveria ser conhecido 24 horas depois da colheita.
A estudante de ciências biomédicas da Universidade de Aveiro, que também foi apanhada pelo fim da quarentena e aguarda ligação ao Pico, optou por apanhar um voo da TAP “porque o Governo dos Açores não arranjou forma mais rápida de chegar” à região.
Queixa-se de “falta de diálogo” entre a Direção Regional de Saúde e a SATA, de receber “informação contraditória” e de ser “evidente que as pessoas sabem tanto ou menos” do que os estudantes que procuram uma clarificação.
“As entidades oficiais não cumprem o que está determinado”, refere Carlota Marcos, que aponta o facto de estar a viver com “grande ansiedade”.
Apesar das recomendações do Governo dos Açores para não regressarem às ilhas, vários estudantes têm optado por tentar chegar a casa e unirem-se aos seus familiares, através da TAP, única companhia a assegurar ligações para os Açores.
Em 15 de abril, um grupo de estudantes açorianos deslocados no continente apelou ao Presidente da República para que desenvolva “todos os esforços” no sentido de regressarem às suas casas, nas diferentes ilhas dos Açores.
De acordo com a missiva, os alunos pediam a Marcelo Rebelo de Sousa “todos os esforços no sentido de que seja realizada uma operação de resgate segura, incluindo transporte aéreo e terrestre”, para chegarem às suas ilhas de origem.
O grupo de estudantes já tinha enviado uma carta ao presidente do Governo Regional dos Açores, Vasco Cordeiro, em que sugeriam mesmo que esse resgate fosse realizado através do recurso a um avião C295, da Força Aérea Portuguesa, com capacidade para 70 passageiros.
O Governo Regional dos Açores, a par da recomendação aos estudantes açorianos deslocados no continente que permaneçam onde estão, devido à pandemia da covid-19, disponibilizou apoios financeiros ao alojamento e alimentação para situações de carência económica.