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Évariste Ndayishimiye vence presidenciais no Burundi segundo resultados provisórios

O candidato Évariste Ndayishimiye, do partido no poder no Burundi, venceu as eleições presidenciais, realizadas em 20 de maio, de acordo com os resultados provisórios publicados hoje pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI).

Évariste Ndayishimiye, líder do Conselho Nacional para a Defesa da Democracia (CNDD-FDD), no poder, obteve 68,72% dos votos (pouco mais de três milhões), seguido do líder do Congresso Nacional para a Liberdade (CNL), da oposição, Agathon Rwasa, que obteve 24,19% (pouco mais de um milhão de votos).

Com estes dados, que ainda terão de ser validados pelo Tribunal Constitucional, para serem anunciados os resultados finais, em 04 de junho, Évariste Ndayishimiye tem uma maioria absoluta e evita uma segunda volta.

Se não houver contratempos, o vencedor tomará posse como novo Presidente do Burundi em agosto, para um mandato de sete anos.

Além dos dois principais candidatos, havia outros seis que obtiveram os restantes votos, disse o CENI, que indicou também que a afluência às urnas foi de 87,71%.

Pouco mais de cinco milhões de eleitores foram chamados às urnas na quarta-feira, após uma campanha eleitoral marcada pela violência, detenções de elementos da oposição e pela pandemia de covid-19, que já causou 42 infeções e uma morte no país, mas que não foi considerada como fator impeditivo para a realização das eleições.

“As eleições foram calmas. A contagem foi feita no local da votação e a ata foi entregue. A contagem foi feita com transparência”, afirmou hoje o presidente do CENI, Pierre-Claver Kazihise, no momento em que anunciou os resultados num hotel em Bujumbura, a capital comercial e maior cidade do Burundi.

As eleições visaram eleger um novo Presidente, após 15 anos de mandato de Pierre Nkurunziza, que não se candidatou à reeleição, apesar de ter feito algumas tentativas para se manter no poder, mas que acabou por apoiar Ndayishimiye.

Pierre Nkurunziza liderou o pequeno país da África Oriental com um autoritarismo crescente desde o fim da guerra civil (1993-2005), que colocou os Hutus (85% da população) contra os Tutsis e causou cerca de 300 mil mortos.

O partido governamental ganhou também as eleições legislativas, que se realizaram no dia 20, ao conquistar 72 dos 100 lugares no parlamento, seguido do CNL (27) e da União para o Progresso Nacional (Uprona, com um lugar).

O Burundi, um dos mais pequenos países africanos, realizou eleições depois de cinco anos de crises políticas, sem a presença de observadores internacionais e protegido pela “graça de Deus” contra a covid-19.

O país, localizado na região dos Grandes Lagos, com 11 milhões de habitantes e 5,1 milhões de eleitores, decidiu manter as eleições gerais - presidenciais, legislativas e locais - apesar dos riscos de propagação da covid-19, doença que, em larga medida, tem sido desvalorizada pelas autoridades.

O Burundi vive uma grave crise política desde as últimas eleições, em 2015, de que já resultaram pelo menos 1.200 mortos e mais de 400 mil refugiados, acontecimentos alvo de uma investigação do Tribunal Penal Internacional.

A violência, desencadeada pela contestação ao terceiro mandato de Pierre Nkurunziza, considerado inconstitucional pela oposição, fizeram ressurgir o espetro da guerra civil.

O chefe de Estado cessante surpreendeu ao anunciar, em junho de 2018, que não se recandidataria, apesar de a nova Constituição, aprovada por referendo nesse mesmo ano, lhe permitir ficar até 2034.

Pierre Nkurunziza deixa a cena política depois de o parlamento lhe ter atribuído uma mansão de luxo e uma pensão vitalícia e o ter elevado a “guia supremo do patriotismo”, vantagens consideradas “indecentes” pela oposição.

Ao contrário da Etiópia, que adiou as suas eleições de agosto devido à covid-19, o Burundi decidiu mantê-las, com o Governo a alegar estar protegido pela “graça divina”.

O país registou oficialmente 42 casos positivos, incluindo uma morte, mas as autoridades são acusadas por médicos e pela oposição de esconder casos de infeção pelo novo coronavírus, atribuindo-os a outras doenças, como a pneumonia.

O Burundi não impôs o confinamento da população e a campanha eleitoral mobilizou grandes multidões, com a distribuição de baldes de água e sabão como medida preventiva.

O Governo ordenou mesmo, sem dar qualquer explicação, a expulsão dos quatro principais peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS) que aconselhavam sobre a epidemia e que abandonaram o país no sábado.

Por outro lado, não foi autorizado que observadores internacionais assistissem às eleições, incluindo da União Africana (UA), algo considerado como pouco habitual num Estado-membro da organização.

Entre a população, são poucos os que acreditam em eleições justas e livres e crescem os receios de que possa haver uma contestação violenta dos resultados, depois de a campanha eleitoral ter sido marcada por confrontos entre membros de partidos rivais e detenções de opositores.

O Burundi está entre os três países mais pobres do mundo, segundo o Banco Mundial, que estima que 75% da população vive hoje abaixo do limiar da pobreza, contra os 65% quando Nkurunziza chegou ao poder em 2005.

A taxa de desemprego dos jovens é de 65%, segundo o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), e seis em cada 10 crianças são raquíticas devido à subnutrição.

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