Anticorpos
Toda a gente fala de testes de pesquisa e doseamento de anticorpos anti SARS-CoV-2. Os testes serológicos de pesquisa e doseamento de anticorpos específicos permitem verificar, em pessoas com ou sem sintomas de uma infeção, a presença de anticorpos gerados pelas defesas do organismo contra (por exemplo) um vírus. Em princípio, quem apresenta um título de anticorpos específico suficiente para ter imunidade está protegido contra o respectivo agente infeccioso. A presença de anticorpos significa que houve o contacto com o vírus, quer a pessoa tenha ou não desenvolvido a doença.
O termo “anticorpo” apareceu, pela primeira vez, no livro “Estudos Experimentais sobre Imunidade”, publicado em Outubro de 1891, num texto do bacteriologista alemão Paul Ehrlich (1854-1915). Escreveu o cientista: “se duas substâncias dão origem a dois “Antikörper” diferentes, então elas próprias têm que ser obrigatoriamente diferentes”.
A condição necessária para o sistema imunitário produzir anticorpos é o vírus permanecer “em circulação”, no organismo, durante o tempo que permita medir os níveis de anticorpos e aferir a resposta imunitária ao vírus.
Os anticorpos a pesquisar/dosear são IgM e IgG específicos para o SARS-CoV-2. Conjugando o resultado com outros testes, por exemplo PCR, permite ter uma ideia do estádio da doença, em doentes sintomáticos.
O primeiro a aparecer é o IgM, teoricamente 3-5 dias após o início dos sintomas (em alguns casos, entre o 7º e o 10º dia), seguido do IgG, teoricamente 13- 14 dias após o início dos sintomas. Com o passar do tempo, o IgM atinge um pico e decai sendo residual (teoricamente) por volta do 21º dia. O IgG é suposto persistir por tempo indeterminado, garantindo alguma imunidade em caso de novo contacto com o agente infeccioso.
Pelo que acabo de escrever, é fácil perceber que estes testes não servem para diagnóstico precoce da doença, porque o IgM só aparece dias depois da infecção.
O teste para Anticorpos SARS-CoV-2 (IgG e IgM) é uma análise sanguínea que determina quantitativamente os anticorpos das classes IgM e IgG para o novo coronavírus. Indica que o indivíduo já foi portador da doença ou teve contacto com o vírus que determinou a resposta imunológica, embora possa não ter apresentado sintomas. A IgG é a única que atravessa a placenta e pode originar imunidade fetal.
Os testes foram lançados no mercado com a urgência requerida pela pandemia. Não está garantida que a sua fiabilidade seja equivalente a testes idênticos para outros vírus largamente estudados durante anos.
Para o teste dar garantias estatísticas de fiabilidade para a covid-19 (que afecta 2% a 3% da população), é necessário que a sua especificidade seja de, pelo menos, 99.7%.
O SARS-CoV-2 é um coronavírus. Quase toda a população mundial já teve contacto com algum coronavírus, que mais não seja, o que produz o resfriado comum. Nada nos garante que não haja reacções cruzadas que podem produzir falsos positivos.
Também não sabemos, ao certo, qual o teor de anticorpos que produz imunidade à covid-19 e por quanto tempo é que esses anticorpos permanecerão no organismo.
Não sabemos, ainda, se é possível haver reinfecção em pessoas com anticorpos produzidos, em infecção recente anterior, por SRAS-CoV-2. Há casos relatados de reinfecção (por exemplo, na China) não havendo a certeza se foi por um vírus mutante, por insuficiência de anticorpos residuais ou por algum RNA viral remanescente.
Em contrapartida, se os testes funcionarem bem, será possível determinar se um indivíduo teve contacto e é portador do vírus, mesmo sendo assintomático, e tomar as devidas precauções.
Quero reforçar a ideia de que muito pouco se sabe acerca do SARS-CoV-2 e consequente covid-19.
Pretendo reforçar a ideia de que a covid-19, veio para ficar. Temos de nos habituar a viver com ela (como com tantas outras doenças...). Teremos de, progressivamente, voltar à normalidade das nossas vidas.
Uma vacina eficaz só será possível daqui a um ano e meio ou dois anos (espero estar enganado...).
É provável aparecer, antes, algum medicamento que nos permita lutar com alguma viabilidade contra o vírus.
É preciso muito mais tempo para a ciência estudar, devidamente, o vírus e, então, podermos ter mais certezas e menos “opiniões”.