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Bolsonaro diz que jamais entregará o seu telemóvel à justiça

O Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, garantiu na sexta-feira que “jamais” entregará o seu telemóvel à justiça, acrescentando que usa o aparelho para falar com outros líderes mundiais, temendo que o conteúdo das conversas seja divulgado.

“Acham que eu sou um rato para entregar o meu telemóvel nessas circunstâncias? Como é que eu vou entregar um telemóvel em que eu falo com líderes mundiais? Alguns falam que é praxe, eu não sou diferente de ninguém, a lei atinge-me, mas sou Presidente da República e vou lutar pelo meu país. Eu farei valer a posição do Presidente. Jamais pegarão o meu telefone. Seria uma afronta”, afirmou Bolsonaro, em entrevista à rádio Jovem Pan.

Bolsonaro considerou ainda uma “aberração” e “um ultraje” que a justiça brasileira queira ter acesso ao seu telemóvel, num caso que investiga a alegada tentativa de interferência política do Presidente na Polícia Federal

“Imaginem um telefone, eu entrego-o ao senhor Celso de Mello [juíz do Supremo Tribunal Federal] e ele resolve divulgar ligações com chefes de Estado, autoridades daqui ou trocas de mensagens no Whatsapp? Não tem cabimento. Ele divulgou 99% da fita [da reunião ministerial]. É uma aberração, um ultraje, uma irresponsabilidade alguém querer ter acesso ao meu telefone funcional”, acrescentou o mandatário.

O juiz Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal enviou na quinta-feira à Procuradoria-Geral da República (PGR) pedidos judiciais apresentados por partidos políticos, que incluem a apreensão do telemóvel de Jair Bolsonaro.

Os pedidos foram apresentados pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Verde (PV) e Partido Socialista Brasileiro (PSB), que defendem que seja feita uma investigação mais efetiva sobre uma alegada tentativa de interferência de Bolsonaro na Polícia.

Entre as diligências apontadas pelos partidos estão pedidos para que Bolsonaro preste depoimento e que seja feita a apreensão do seu telemóvel, bem como do telemóvel de um de seus filhos, Carlos Bolsonaro.

Também há pedidos de perícia nos telemóveis do ex-diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro, e da deputada federal (membro da câmara baixa parlamentar) Carla Zambelli.

Agora, caberá ao procurador-geral da República, Augusto Aras, analisar se adotará os procedimentos solicitados.

Os pedidos de investigação foram provocados por uma denúncia do ex-ministro Sergio Moro, que declarou publicamente que Jair Bolsonaro demitiu o antigo chefe da Polícia Federal Maurício Valeixo porque tinha interesse em ter alguém próximo no comando da força policial federal brasileira.

No dia em que apresentou a sua demissão, Moro levantou a suspeita de que o chefe de Estado queria obter informações sobre investigações sigilosas que envolvem os seus filhos e aliados próximos.

Na sexta-feira, o mesmo juiz do Supremo divulgou um vídeo de uma reunião ministerial realizada em abril, em Brasília, apontada por Sergio Moro como prova sobre a alegada interferência do Presidente na polícia.

No vídeo destacam-se palavrões e injúrias por parte de Bolsonaro a ministros e a ameaça do Presidente Jair Bolsonaro de demissão “generalizada” a quem não adotasse a defesa de assuntos defendidos pelo Governo.

“Que me desculpe o serviço de informação nosso - todos - é uma vergonha, uma vergonha, que eu não sou informado e não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir. Ponto final. Não é ameaça, não é extrapolação da minha parte. É uma verdade”, disse Bolsonaro, exaltado, no vídeo.

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