Marcelo diz que pandemia foi lição de pluralismo e alguns políticos ainda não perceberam
O Presidente da República defendeu hoje, em Ovar, município que esteve 31 dias sob cerco sanitário, que a pandemia de covid-19 foi uma lição de pluralismo e alguns políticos ainda não se aperceberam disso, mantendo “a conversa de antigamente”.
Marcelo Rebelo de Sousa falava após uma visita ao hospital de campanha de Ovar, onde, acompanhado pelo primeiro-ministro, pela ministra da Saúde e pelo ministro da Administração Interna, deixou largos elogios à população local, argumentando que, ao cumprir o confinamento domiciliário imposto pelo estado de calamidade e suportar várias restrições à sua livre circulação e atividade económica, a comunidade vareira constituiu um “catalisador positivo” na contenção nacional do vírus SARS-CoV-2.
Depois, o chefe de Estado dirigiu críticas a “uns especialistas” que, perante os bons resultados da cerca geográfica, vêem agora reposta a normalidade possível e ultrapassadas as previsões mais catastróficas, mas reclamam de “algum exagero” nas medidas inicialmente adoptadas, em vez de reconhecerem que foram precisamente essas escolhas a conter a doença e a proteger o resto do país de um eventual contágio “às pinguinhas”.
“O vírus não é elitista, é democrático. Isso também é uma lição que aprendemos [com a pandemia], de pluralismo em solidariedade. Alguns políticos é que ainda não perceberam isso e continuam a fazer conversa de antigamente. Então andamos nós a discutir não sei quantos contaminados, não sei quantos internados, não sei quantos em cuidados intensivos e andam outros a discutir o sexo dos anjos?”, questionou Marcelo, para acrescentar: “Há prioridades e depois é que há o sexo dos anjos”.
Marcelo Rebelo de Sousa reconheceu que os diversos problemas gerados pela pandemia são outra luta por travar e que essa se disputará em paralelo à aprendizagem imposta por um vírus sobre o qual ainda tanto se desconhece, mas, na sua análise global sobre a resposta nacional à pandemia, deixou já um recado aos tais especialistas: “O resultado não ficou aquém dos problemas económicos e sociais que já vivemos agora; ficou além, porque a vida e a saúde fiam mais fino do que a economia e a sociedade”.
Para os políticos que ainda não se aperceberam do que está em causa, o Presidente da República considera que devem actualizar-se: “O discurso antigo vai ter de mudar um bocadinho porque a nossa vida mudou muito”, considerou.
O novo coronavírus responsável pela pandemia de covid-19 foi detectado na China em Dezembro de 2019 e já infectou mais de 5,1 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 335 mil morreram. Ainda nesse universo de doentes, mais de 1,9 milhões foram já dados como recuperados.
Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados se registaram em 2 de Março, o último balanço da Direcção-Geral da Saúde indicava 1.289 óbitos entre 30.200 infecções confirmadas.
No caso de Ovar, distrito de Aveiro, o município de 148 quilómetros quadrados e cerca de 55.400 habitantes esteve em estado de calamidade pública devido à contaminação comunitária pelo vírus SARS-CoV-2 entre 17 de março e 18 de abril, o que implicou um cerco sanitário a todo o território, com controlo policial de entradas e saídas, e o encerramento da maioria da actividade económica local.
O último balanço da câmara regista um total acumulado de 40 óbitos e 713 casos confirmados de covid-19, sendo que, desses, apenas 55 se encontram actualmente activos. Esta manhã, a DGS ainda atribuía ao concelho um acumulado de apenas 651 diagnósticos por SARS-CoV-2.