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Guia de arquitectura do Funchal

Em artigo recentemente publicado, o cardeal Tolentino convida-nos a pensar no que queremos ser no pós-Covid-19 perguntando: “saberemos construir alternativas à massificação e reinventar uma escala mais humana para a convivência, para a arquitetura das nossas cidades”? Não cabe aos arquitectos decidir a escala da cidade do futuro. Estes tão depressa são capazes de projectar, à escala humana, o modesto retiro de um poeta, como projectar, à escala de Deus, uma catedral ou um grande hotel como o Savoy. A pergunta é, pois, dirigida a todo o rebanho humano e reveste a forma de um apelo: reinventemos uma cidade feita à medida da nossa convivência fraterna, uma cidade sem guetos, sem condomínios para ricos nem dormitórios para pobres. Seria, certamente, uma cidade mais justa, mas não há rasto dela no mapa da história humana. Devo dizer, todavia, que os meus colegas da Delegação da Madeira da Ordem dos Arquitectos não esperaram pelo pós-Covid para por no mapa (não da história humana mas da história da arquitectura) a cidade do Funchal.

Na actual crise sanitária não cabe aos arquitectos um papel de relevo. Tal como a tantos outros, pede-se-lhes que fiquem em casa trabalhando (caso tenham trabalho, claro). Os meus colegas aproveitaram a oportunidade para publicar um Guia da Arquitectura do Funchal. Trata-se de uma iniciativa que se vinha já planeando desde 2014, quando eu próprio fazia parte da Direcção, e que vem suprir uma falta gritante no domínio da divulgação do património arquitectónico e urbanístico da nossa cidade. No decurso do século passado, o Funchal viu-se enriquecido por um conjunto de edifícios e operações urbanísticas de assinalável qualidade, facto que não é do conhecimento de muitos dos seus visitantes nem mesmo, por vezes, dos seus habitantes. Herdámos desse século um património arquitectónico que, apesar de já ter sido em parte referenciado pela história e pela crítica, infelizmente não estava, na maioria dos casos, presente nos roteiros turísticos da cidade.

O Guia será publicado ainda este mês de Maio e conterá as 15 obras essenciais do século XX no Funchal, dando a conhecer a quem visita a capital do arquipélago quais os trechos urbanos ou edifícios que deve incluir no seu itinerário. Para o efeito, nele se encontrará, ordenada cronologicamente, a informação necessária: localização, autoria, datas de projecto e de construção bem como um pequeno texto onde se contextualiza a obra e se destacam as suas qualidades. Concebido num tempo de adversidade e incerteza, este Guia não se interroga sobre a cidade do futuro, mas é um projecto de esperança, de fé e de partilha com os outros do que de melhor herdámos do passado.

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