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Dez milhões de pessoas, incluindo lusodescendentes, sem televisão por cabo na Venezuela

Mais de 2,5 milhões de famílias venezuelanas viram hoje suspenso o serviço de televisão por satélite da Directv, devido a uma decisão da norte-americana AT&T de suspender esse tipo de serviço na Venezuela.

A decisão tem a ver com a imposição de sanções pelos EUA contra o Governo venezuelano e o cumprimento da licença local de operação que exige que sejam transmitidos os canais Globovisión e Pdvsa, sancionados por Washignton.

A suspensão que, segundo a imprensa local, afeta pelo menos 10 milhões de pessoas apanhou os venezuelanos de surpresa, entre eles os portugueses, que deixaram de poder ver a emissão internacional do canal público português RTPi.

“Não há luz, nem água e escasseia a gasolina, a Internet quase não serve, conseguir fazer uma chamada telefónica é complicado, e agora também não há televisão por cabo, era o que nos faltava”, disse um lusodescendente à Agência Lusa.

José Manuel Gonçalves, de 35 anos, explicou ainda que há apenas 15 dias conseguiu comprar um descodificador de Directv porque “durante muito tempo não havia no mercado”.

“Fiquei sem televisão para o meu filho, de 3 anos, e sem o canal de televisão português, sem a RTPi. Paguei 65 dólares (60 euros) mas queria um descodificador de alta definição que pudesse gravar os programas para ver depois. Como custava mais de 400 dólares (369 euros) estava fora do meu orçamento”, frisou.

Segundo este lusodescendente a suspensão da Directv vem dificultar ainda mais a já complicada vida das pessoas na Venezuela, um país onde “os salários são baixos, os preços das coisas estão pelas nuvens e há muitas coisas que não se conseguem” no mercado local.

Outra lusodescendente, Maria Freitas, de 65 anos, explicou à agência Lusa que quase não vê televisão local e que o cabo permitia-lhe ver canais internacionais.

“A televisão estava acesa quase todo o dia. A maior parte do tempo na RTPi, mas também canais de telenovelas e generalistas que mudava quando preparam receitas de gastronomia, porque aqui, além de ser tudo muito caro, há ingredientes que não se conseguem aqui”, explicou.

Vários portugueses disseram à Lusa estar preocupados porque ficaram sem poder ver televisão, o que complica o dia a dia em quarentena, principalmente dos que têm crianças.

A empresa de telecomunicações norte-americana AT&T anunciou hoje que vai abandonar o mercado de TV paga da Venezuela, alegando querer obedecer às sanções do Governo dos EUA contra o regime do Presidente venezuelano, Nicolas Maduro.

A empresa, com sede em Dallas, diz que a saída da sua plataforma televisiva na Venezuela, a Directv, será imediata, para cumprir as exigências das sanções económicas impostas pela Casa Branca contra o regime de Nicolas Maduro, a quem os Estados Unidos não reconhecem legitimidade política.

“Sendo impossível para a nossa unidade Directv cumprir os requisitos legais de ambos os países, a AT&T é forçada a encerrar as suas operações de televisão paga na Venezuela, uma decisão tomada pela equipa de liderança da empresa nos EUA”, justifica a operadora, num comunicado hoje divulgado.

A AT&T é a maior empresa do mercado de televisão paga na Venezuela e foi uma das últimas grandes empresas norte-americanas a permanecer em operação naquele país da América Latina, que atravessa uma grave crise política e económica e que tem sido alvo de sanções por parte da comunidade internacional.

Nos últimos meses, a AT&T começou a sofrer fortes pressões por parte das autoridades norte-americanas, acusada de estar a cumprir diretivas do Governo de Maduro, nomeadamente cedendo na exigência de retirar cerca de 10 canais, incluindo o da estação noticiosa CNN, na sua versão em espanhol, por esta transmitir imagens de manifestações contra o regime venezuelano.

A Directv é também uma plataforma importante para a transmissão de canais televisivos estatais muito criticados pela oposição, que considera serem meros instrumentos de propaganda.

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