Ana Gomes vai refletir sobre presidenciais porque “mudou muita coisa”
A ex-eurodeputada socialista Ana Gomes afirmou hoje que vai refletir sobre as presidenciais, embora não ambicionasse ser candidata, por considerar que “mudou muita coisa” com o primeiro-ministro a antecipar um segundo mandato de Marcelo Rebelo de Sousa.
Ana Gomes falava na SIC-Notícias a propósito das declarações do primeiro-ministro e secretário-geral do PS, António Costa, na Volkswagen Autoeuropa, na quarta-feira, manifestando a expectativa de regressar àquela fábrica com o atual Presidente da República, já num segundo mandato, dando como certa a sua recandidatura e reeleição.
No entender de Ana Gomes, “esse episódio é absolutamente lamentável e é deprimente mesmo” e “perigoso para a democracia”, devendo provocar “uma reflexão” da sua parte e de todos os democratas, porque “de facto mudou muita coisa”,
Questionada se admite mudar de ideias e candidatar-se a Presidente da República nas eleições de 2021, a ex-eurodeputada respondeu: “Admito refletir, é isso que vou fazer”.
Interrogada sobre quanto tempo levará essa reflexão, retorquiu: “Não é só minha. Estamos a oito meses das eleições, ainda muita água vai correr debaixo das pontes”.
Enquanto militante socialista, Ana Gomes criticou António Costa por ter assumido uma posição sobre as presidenciais quando “não estava na qualidade sequer de dirigente partidário, mas na qualidade de primeiro-ministro” e observou que “a democracia não está suspensa”, mas “parece que alguns pensam que está suspensa no PS”.
Em seguida, criticou também o presidente do PS, Carlos César, pelas suas declarações ao jornal Público, em que remeteu o congresso previsto para este ano para depois das eleições presidenciais, acusando-o de falar com “uma leviandade paternalista insuportável”.
Segundo a diplomata, Marcelo Rebelo de Sousa é hoje “um candidato do regime”, que “vai polarizar a sociedade e, no fundo, isso vai fazer o jogo, vai facilitar a vida dos extremos”, o que “é muito perigoso para a democracia” num contexto em que existe uma “extrema-direita organizada, não só cá mas internacionalmente”.
“Do meu ponto de vista isto é grave, tão grave que eu - que tenho dito sobre isto e continuo a pensar que o PS devia ter um candidato próprio, das suas fileiras ou não, e também o disse que não sou candidata - acho que neste momento todos temos de refletir”, acrescentou.
Ressalvando que no presente não é candidata e nem ambicionava sê-lo, Ana Gomes reforçou a mensagem de que “o que se passou é tão grave, tem tantas implicações para a democracia” que impõe “uma reflexão”, porque “a situação não é igual ao dia anterior”.
“Eu fico muito preocupada pelo meu partido e pela democracia. E acho que muitos portugueses do centro-esquerda, da esquerda e da própria direita democrática estão preocupados - porque isto tem repercussões, obviamente, para o PSD”, disse.
Nas últimas eleições presidenciais, realizadas em 2016, em que o antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito com 52% dos votos, houve dois candidatos da área política do PS, Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa, e o partido não declarou apoio oficial a nenhum.