Itália e Áustria divergem quanto ao modelo do Fundo de Recuperação
Itália e Áustria manifestaram hoje posições opostas à proposta franco-alemã para criar um fundo europeu de 500.000 milhões de euros para o relançamento económico destinado aos países mais afetados pela covid-19.
O Governo italiano considerou hoje “um primeiro passo” a proposta apresentada hoje pela chanceler alemã, Angela Merkel, e pelo Presidente francês, Emmanuel Macron, indicando que “representa um passo importante em frente e que vai na direção pedida por Itália desde o princípio, a de existir uma resposta comum ambiciosa à pandemia”, refere o Governo italiano numa nota.
O plano sugerido pela Alemanha e pela França [que, à partida, será rejeitado pelos Países Baixos], é o resultado de um “trabalho conjunto” feito com outros países europeus, entre eles a Itália, tendo em vista a proposta da Comissão Europeia (CE) para a criação de um fundo de recuperação, refere-se num comunicado das autoridades de Roma.
“Ter 500.000 milhões de euros em transferência é certamente um primeiro passo e, de qualquer maneira, é uma dotação para subvenções que se aproxima do solicitado recentemente pela Itália e por outros países. A partir desta verba, podemos começar a fazer que o fundo de recuperação seja ainda mais consistente no quadro do orçamento comunitário”, sublinham as autoridades de Roma.
O Governo italiano sublinhou também que a iniciativa é “um ponto de partida que não deve ser revisto em baixa, mas sim expandir-se”, e encorajou a Comissão a apresentar um plano de recuperação “financeiramente mais ambicioso”, pelo que apelou aos países da União Europeia (UE) a considerarem a crise de covid-19 como “a oportunidade para impulsionar uma nova Europa, mais unida”.
“Uma Europa em que todos os países mais afetados tenham a oportunidade de começar juntos”, defendem as autoridades italianas.
Em Viena, o executivo austríaco mostrou-se firme na oposição que vem mantendo à ideia apresentada por grande parte dos países europeus, insistindo hoje que qualquer ajuda europeia deverá ser feita num “modelo de empréstimos e não de subvenções”.
“A nossa posição mantém-se inalterada. Estamos prontos para ajudar os países mais afetados, mas com empréstimos”, escreveu na rede social Twitter o chanceler austríaco Sebastian Kurz pouco depois de ter conhecimento da proposta franco-alemã.
Um pouco mais tarde, a chancelaria austríaca publicou uma declaração em que as autoridades de Viena afirmam que continuaram “a dar provas de solidariedade e a apoiar os países que foram mais afetados pela pandemia do novo coronavírus”, mas que descarta a ideia de subvenções.
Na mensagem, Kurz referiu ter tido uma “boa troca de ideias” com os primeiros-ministros da Dinamarca, dos Países Baixos e da Suécia sobre a proposta a avançar pela Comissão Europeia (CE) no que diz respeito aos fundos para o relançamento económico”.
Os países mencionados pelo chanceler austríaco, tal como a Áustria, têm resistido à ideia de utilizar os instrumentos de dívida comum para que se possa criar um fundo de recuperação.
“Aguardamos que o QFP [Quadro Financeiro Plurianual] atualizado reflita nas novas prioridades mais do que relevar o ‘plafond’”, declarou Kurz, aludindo ao orçamento de longo prazo da União Europeia (UE).
Merkel e Macron anunciaram a proposta conjunta do eixo franco-alemão e garantiu que esta é uma “resposta curta” à crise desencadeada pela pandemia, a que se seguirá uma “resposta maior” para enfrentar as consequências a mais longo prazo.
Nas últimas semanas, Itália defendeu a criação de um plano de reconstrução europeia, dotada com pelo menos 1,5 mil milhões de euros, para ajudar os países mais afetados pela pandemia em forma de transferências a fundo perdido e não de empréstimos para evitar que os Estados se endividem ainda mais, ponto sobre o qual os Países Baixos se mostram contra.
Até agora, os Países Baixos ainda não se pronunciaram.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 315.000 mortos e infetou mais de 4,7 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 1,7 milhões de doentes foram considerados curados.