Rastreios do cancro colorretal feitos por endoscopia desapareceram
O presidente da Secção Regional Sul da Ordem dos Médicos (OM) alertou hoje que há centros de imagiologia a fazer 10% das mamografias que faziam antes da pandemia e que os rastreios do cancro colorretal feito por endoscopia desapareceram.
No ‘webinar’ sobre o impacto da covid-19 nos cuidados de saúde pública, organizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e pela Ordem dos Médicos, Alexandre Valentim Lourenço disse ter “relatos de vários grandes centros de imagiologia que estão a fazer 10% das mamografias que se faziam há três meses”.
“Será que numa altura em que se pode implementar uma crise económica podemos reduzir os recursos no SNS [Serviço Nacional de Saúde”? , questionou na conferência que reuniu especialistas em saúde pública, acrescentando. “Temos que pôr mais recursos” e “usar outras campanhas de informação para reativar algumas áreas que ficaram a meio gás”.
Valentim Lourenço recordou que no último ‘webinar’ falou-se dos oncologistas a dizer que não houve falhas na resposta dos tratamentos e das cirurgias, mas eram doentes diagnosticados há três meses que tinham iniciado os tratamentos e os mantiveram.
Contudo, “não há novos diagnósticos em grande número na maior parte patologias”.
“Os rastreios do cancro colorretal feitos por endoscopia desapareceram, as endoscopias baixas e altas praticamente deixaram de ser feitas, e os relatos que existem é que não será possível recuperar o número até ao final do ano”, salientou.
Isto significa, frisou, que “muitas outras patologias, muitas outras alterações podem ser alvos de outras curvas de outras epidemias, entre aspas, que não são doenças infecciosas, mas de patologias que podem advir quer nas doenças crónicas quer em doenças agudas diagnosticadas mais tardiamente.
“Concentrámos muitas das nossas ações nesta resposta [à pandemia] que não se pode dizer exemplar, mas foi uma resposta eficaz e eficiente para manter os hospitais sobre segurança”, adiantou.
A saúde pública conseguiu deixar de fazer algumas das suas rotinas, nomeadamente as “famigeradas juntas médicas, o que permitiu aos hospitais e aos centros de saúde adaptarem-se, “mas os relatos das implicações nas outras áreas têm sido importantes”.
“O que é que a saúde pública também pode fazer para monitorizar, aconselhar, avaliar e para nos permitir, dado que muitos dos rastreios e muitos destas vigilâncias estão nas nossas mãos, para recuperarmos isto?”, questionou.
Isto significa tempo, dinheiro e profissionais preparados na saúde pública e nas outras especialidades para trabalhar “sem ser à custa de palmas”, disse, dirigindo-se a Ana Correia, do Colégio da Especialidade de Saúde Pública da OM, Ricardo Mexia, presidente da Associação dos Médicos de Saúde Pública, e Rui Capucho, especialista da Administração Regional de Saúde do Norte.
Na conferência, Ricardo Mexia disse que há uma recusa de várias administrações regionais de saúde em pagar as horas extraordinárias, enquanto Rui Capucho disse que muitos profissionais chegaram a trabalhar 16 horas por dia de forma continuada todos os dias da semana.
“Nós sabendo, como o trabalho que foi posto em marcha, que isto não é possível manter nem na segunda vaga nem noutras infeções porque os profissionais vão-se lembrar se não houver reconhecimento”, disse Valentim Lourenço.
Portugal contabiliza 1.184 mortos associados à covid-19 em 28.319 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.
O país entrou no dia 03 de maio em situação de calamidade devido à pandemia, depois de três períodos consecutivos em estado de emergência desde 19 de março.
Esta nova fase de combate à covid-19 prevê o confinamento obrigatório para pessoas doentes e em vigilância ativa, o dever geral de recolhimento domiciliário e o uso obrigatório de máscaras ou viseiras em transportes públicos, serviços de atendimento ao público, escolas e estabelecimentos comerciais.