“Cansaço de estado de emergência” ameaça progressos
A Organização Mundial de Saúde (OMS) advertiu hoje que o cansaço das restrições impostas pela pandemia de covid-19 ameaça o progresso conseguido através da aplicação dessas medidas, aconselhando os governos a ouvirem as reclamações das populações.
“O ‘cansaço de estado de emergência’ ameaça os preciosos progressos que conseguimos contra este vírus. Desconfiança nas autoridades e teorias da conspiração estão a alimentar movimentos contra o distanciamento físico e social”, afirmou o diretor da OMS para a Europa, Hans Kluge, em conferência de imprensa virtual a partir de Copenhaga, na Dinamarca.
O responsável daquela agência das Nações Unidas afirmou que o sucesso da luta contra a pandemia da covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus, depende de “um contrato social” entre as populações e os decisores que “vai para além do que qualquer responsável governamental ou líder nacional consegue controlar”.
“Estamos na encruzilhada, no ponto onde o comportamento individual determina o caminho que seguimos: ou o que leva a uma nova normalidade ou o que nos manda de volta às restrições aos nossos movimentos e interações sociais”, declarou.
Hans Kluge defendeu que “os governos devem ouvir as suas populações, ganhar a sua confiança e planear medidas de resposta à pandemia” de acordo com as preocupações dos cidadãos.
Para isso, a OMS criou uma ferramenta que ajuda os governos a realizarem sondagens periódicas e perceberem quais as principais preocupações e que já 40 países utilizam, indicou.
O responsável europeu da OMS salientou que “surtos de novos casos apareceram em lugares como [a cidade chinesa de] Wuhan e na Coreia do Sul, onde o vírus parecia ter desaparecido”, o que vem lembrar que “a ameaça do seu ressurgimento não está afastada”.
Estar alerta é preciso tanto nas alturas em que a transmissão esteja no pico como naquelas em que as restrições estejam a ser levantadas, destacou.
“Em termos simples, o nosso comportamento hoje vai determinar o rumo da pandemia. Quando os governos levantam as restrições, os cidadãos tornam-se os atores principais. É uma responsabilidade individual e coletiva. Sigam as recomendações das autoridades nacionais. Limitem as interações sociais e continuem a lavar as mãos”, apelou.
“A desconfiança e a resistência a essas medidas são um desrespeito pelas mudanças de comportamento que todos fizemos para limitar a covid-19 e mandar-nos-ão pelo caminho que nenhum de nós quer tomar”, argumentou.
Por outro lado, também indesejável, há pessoas que estão a ser “demasiado cautelosas” e a limitar demais as suas interações sociais e não usam os serviços de saúde mesmo que precisem, afirmou, defendendo que é preciso um equilíbrio.
Hans Kluge reforçou que “não há lugar para complacências”, notando que na região europeia há um abrandamento do número de novos casos mas que Espanha, Federação Russa e Reino Unido continuam entre os dez países do mundo com maior aumento diário do número de casos.
Nas contas da OMS, nos 43 países da região europeia havia 1,78 milhões de casos registados e 160 mil mortes.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 294 mil mortos e infetou mais de 4,3 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
Mais de 1,4 milhões de doentes foram considerados curados.
Em Portugal, morreram 1.175 pessoas das 28.132 confirmadas como infetadas, e há 3.182 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.