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Região Norte chegou a ter mais de 2.000 notificações e 700 casos por dia

Foto Lusa
Foto Lusa

O especialista em saúde pública Rui Capucho disse hoje que o Norte do país chegou a ter mais de 2.000 notificações e 700 casos de covid-19 por dia, o que constituiu uma “tarefa hercúlea” para os profissionais de saúde.

Os primeiros dias da pandemia em Portugal foram recordados pelo médico da Administração Regional de Saúde do Norte no ‘webinar’ sobre o impacto da covid-19 nos cuidados de saúde pública, organizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e a Ordem dos Médicos.

“É uma tarefa hercúlea para as unidades de saúde pública ter de contactar 700 casos num dia, fazer os preventivos inquéritos epidemiológicos, listar os contactos próximos e não próximos, contactar cada um deles e impor medidas de isolamento”, disse Rui Capucho.

Segundo o especialista, a maior parte dos profissionais das unidades de saúde pública e depois os médicos de medicina geral e familiar “chegaram a trabalhar 16 horas dia de forma continuada, durante todos os dias, sábados e domingos incluídos”.

Como os sistemas de informação de saúde pública “não são propriamente ágeis” e com o aumento do número de casos exponencial foi preciso criar sistemas que auxiliassem na gestão de informação destes casos.

“A região Norte criou os seus próprios sistemas de informação que ainda hoje está a utilizar de modo a conseguirmos gerir uma fonte de informação muito grande”, contou.

No dia 01 de março, foi diagnosticado o primeiro caso no Hospital de Santo António, no Porto, e no dia 04 foi diagnosticado no Hospital de São João, um caso que veio originar o primeiro ‘cluster’.

No dia seguinte, foi reforçada a equipa da unidade pública que estava a gerir este caso e em 48 horas tinham diagnosticado 19 novos casos associados.

“Em 48 horas, tivemos que pôr 400 pessoas em quarentena fazer o acompanhamento diário destas pessoas e, nesta fase inicial, não foi só uma questão da gestão dos sinais e sintomas que eles viessem a desenvolver, mas os medos e expectativas de todos eles”, contou.

Para o médico, fazer a gestão de “um primeiro ‘cluster’ numa fase em que a doença ainda era muito desconhecida foi uma tarefa com alguns espinhos”.

Deu o exemplo de famílias que estavam em isolamento juntas e que dia a dia era retirada uma pessoa para a levar para o hospital porque tinha desenvolvido sintomas e confirmava-se um novo caso.

“As famílias viam os seus familiares a serem diagnosticados um a um e a perceber que o próximo era ele”, recordou.

Fazendo um balanço desta primeira fase, disse que conseguiu cumprir-se o “objetivo principal” de não saturar o Serviço Nacional de Saúde, tendo “uma resposta capaz”.

“Mas não vamos poder baixar muito a guarda com a saída do estado de emergência. Mesmo com muitas medidas de contenção, vai-nos trazer um aumento do número de novos casos e temos que estar muito atentos para conseguir fazer a contenção destes novos casos e das suas cadeias de transmissão”, sublinhou.

Apesar de ainda não se saber qual vai ser a dinâmica do vírus no verão, sabe-se que haverá uma segunda onda no inverno, vincou.

Sobre as aprendizagens que gostava que este primeiro ciclo de pandemia deixasse, apontou “a utilização sistemática dos equipamentos de proteção individual e um aumento da perceção da necessidade das precauções básicas de controle de infeção”.

Tal como a população aprendeu com a pandemia de gripe de 2009 de deixar de tossir para a mão e passar a fazê-lo para o interior do antebraço, Rui Capucho disse que gostava que os doentes com patologia respiratória se habituassem a pôr uma máscara no hospital ou no centro de saúde para “não transmitir a doença a mais ninguém”.

Também é preciso haver mudanças nos lares para idosos: “Vamos ter que ser muito mais exigentes e vamos ter que elevar as fasquias das condições mínimas do seu funcionamento e vamos ter que capacitar muito melhor os profissionais que trabalham nesses locais”.

Portugal regista hoje 1.184 mortes relacionadas com a covid-19, mais nove do que na quarta-feira, e 28.319 infetados, mais 187, revelam os últimos dados da Direção-Geral da Saúde.

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