Sindicato dos tripulantes recusa negociar com Ryanair sobre despedimentos
O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) disse hoje à Lusa que vai recusar qualquer negociação com a Ryanair sobre eventuais reduções salariais ou despedimentos.
“O SNPVAC, em conjunto com os outros sindicatos europeus, irá enviar um documento único para a Ryanair, refutando toda a argumentação da empresa irlandesa, e recusando qualquer negociação ou conversa sobre eventuais reduções salarias e/ou de pessoal, com prejuízo dos seus associados, sem que a companhia aérea apresente qualquer tipo de estratégia ou tenha em sua posse o real plano de retoma da atividade e provas concretas que essas reduções são fundamentais para a sua sobrevivência”, respondeu à Lusa o sindicato.
Em causa estão as declarações do presidente executivo (CEO) da Ryanair, Eddie Wilson, que admitiu na terça-feira, em entrevista à agência Lusa, avançar com despedimentos e com a redução da frota em Portugal.
O SNPVAC diz não estar surpreendido com as declarações de Eddie Wilson, mas reitera que não passará um “cheque em branco à companhia, nem será o seu bode expiatório” e que, apesar de entender a conjuntura que a aviação civil vive, “patrocinará qualquer legítima ação sempre que os seus associados se sintam prejudicados”.
Os representantes dos tripulantes lamentam ainda o “’timing’ destas afirmações, face às recentes notícias relativamente ao pagamento de 1,1 milhões de euros por parte do Governo dos Açores à transportadora aérea irlandesa para fazer promoção turística da região junto do mercado do Reino Unido”.
O sindicato considera mesmo as afirmações do CEO da Ryanair “ameaças veladas” para criar “medo e insegurança” junto dos trabalhadores, bem como uma “afronta” ao país, tendo em conta que a companhia usufruiu dos apoios extraordinários do Governo português às empresas, face aos efeitos da pandemia de covid-19 na economia, nomeadamente o ‘lay-off’ simplificado.
“Será necessário esclarecer o presidente Eddie Wilson que existem regras a cumprir durante e após o período do ‘lay-off’, tais como a proibição de despedimentos durante 60 dias após o ‘lay-off’ terminar e que todas as obrigações perante os seus trabalhadores se encontrem regularizadas”, acrescenta o sindicato.
Na terça-feira, a companhia aérea Ryanair disse estar a reavaliar a sua operação em Portugal e admitiu avançar com despedimentos e com a redução da frota no país, medidas que resultam da diminuição acentuada da procura provocada pela pandemia de covid-19.
“Anunciámos há algumas semanas que iríamos ter de reduzir cerca de 3.000 postos de trabalho, em cerca de 15 a 16 mil funcionários, e alguns deles, provavelmente, serão em Portugal, dependendo do número de aeronaves que lá tivermos [a operar]”, afirmou, em entrevista à agência Lusa, o presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson.
No mesmo dia em que a companhia aérea de baixo custo anunciou a retoma das suas operações em julho próximo, após mais de três meses com os aviões parados devido às restrições implementadas pelos países europeus para conter o surto de covid-19, o responsável frisou que a Ryanair está agora “a reavaliar as suas operações e a falar com os sindicatos” em Portugal.
“O nosso objetivo é ter acordos ou uma decisão tomada em breve”, disse Eddie Wilson à Lusa, precisando que esta decisão será divulgada “nas próximas semanas”.
Ainda assim, de acordo com o responsável, é já certo que “o que vai determinar esse número [de despedimentos] será o total de aeronaves baseadas em Portugal”.
“Por cada aeronave que é retirada, são cortados cerca de 10 postos de trabalho de pilotos e aproximadamente 20 empregos na tripulação de cabine”, exemplificou.
Questionado sobre quais serão as bases portuguesas mais afetadas, Eddie Wilson indicou que a transportadora aérea baseada em Dublin, na Irlanda, está a “olhar para tudo”.
“Temos uma operação substancial no Porto, uma operação relativamente pequena em Ponta Delgada, redimensionámos a operação em Faro, e operamos em Lisboa”, elencou, sem pormenorizar.
A Ryanair avançou em 01 de abril com o ‘lay-off’ simplificado em Portugal, considerando o recurso à medida como indispensável para a preservação dos postos de trabalho no país, de acordo com informação transmitida na altura aos sindicatos.