Comunicação do Governo brasileiro defende-se de polémica com ‘slogan’ nazi
O secretário da Comunicação Social da Presidência da República (Secom) do Brasil defendeu-se este domingo de uma polémica iniciada por causa de um ‘slogan’ usado num vídeo institucional do Governo, comparado a um lema nazi.
Em causa está um vídeo institucional para divulgar as principais acções adoptadas pelo Governo brasileiro no combate à crise sanitária provocada pelo novo coronavírus, no qual se utiliza a frase “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”.
Para muitos críticos, a frase evoca a inscrição à entrada do campo de concentração de Auschwitz, “O trabalho liberta”.
Na rede social Twitter, o responsável da Comunicação Social da Presidência, Fabio Wajngartena, acusou os críticos de “analfabetismo funcional” e de fazerem uma interpretação equívoca para “associar o Governo ao nazismo”, acrescentando que ele próprio é judeu.
“Abomino esse tipo de ilação canalha, sobretudo nos tempos difíceis pelos quais estamos passando. Esquecem os ensinamentos judaicos recebidos por mim e por boa parte da minha equipa, e da tradição de trabalho do povo judeu de lutar pela sua liberdade económica”, escreveu Fabio Wajngarten na rede social.
O responsável da Secom defendeu ainda que a comparação banaliza a história, considerando que “acusar injustamente de nazifascismo tira o peso do termo”.
“Se todos são nazifascistas, ninguém é, o que muito interessa aos criminosos, que passam a ser vistos como pessoas comuns”, afirmou.
“É a isso que se prestam alguns políticos e veículos dos ‘media’ na busca por holofotes a qualquer preço”, acusou.
O vídeo, que foi partilhado nas redes sociais pelo Presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, começa com a frase “parte da imprensa insiste em virar as costas aos factos, ao Brasil e aos brasileiros”, mostrando vários títulos publicados na imprensa brasileira sobre a gestão do Governo de Bolsonaro desde o início da pandemia, para depois enumerar algumas das acções do Executivo no combate à pandemia da covid-19.
O vídeo termina com as frases “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil. Juntos, vamos continuar fazendo deste país uma grande nação”.
Esta não é a primeira vez que membros do Governo brasileiro são acusados de usar referências nazis.
Em Janeiro, o então secretário de Cultura, Roberto Alvim, foi exonerado por Bolsonaro, depois de ter feito um discurso em que citava Joseph Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha nazi.
Na altura, o ex-secretário defendeu que se tratava de uma “coincidência retórica” entre os discursos.
Mais recentemente, há algumas semanas, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil, Ernesto Araújo, foi instado a pedir desculpas à comunidade judaica no país por ter comparado as medidas de distanciamento social impostas pelos governadores brasileiros para combater a covid-19 com os campos de concentração nazis.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias France-Presse (AFP), a pandemia de covid-19 já provocou mais de 280 mil mortos e infectou mais de quatro milhões de pessoas em 195 países e territórios.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detectado no final de Dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Para combater a pandemia, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), encerraram o comércio não essencial e reduziram drasticamente o tráfego aéreo, paralisando sectores inteiros da economia mundial.
Face a uma diminuição de novos doentes em cuidados intensivos e de contágios, vários países começaram a desenvolver planos de redução do confinamento e em alguns casos a aliviar diversas medidas.