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1.º de Maio sem trabalhadores/as na rua

não decidam aquilo que devemos fazer porque não nos podem tirar a nossa liberdade

Em Portugal, o 1º de Maio começou a ser comemorado logo a seguir à revolução de Abril de 1974. Na Madeira, foi mesmo no 1º de Maio de 1974 que o povo saiu à rua, na maior manifestação de sempre realizada até hoje, onde, para além de outras reivindicações, prevaleceu as de caráter político, contra a guerra colonial e contra a estadia na Madeira dos representantes da ditadura (que tinha sido deposta com o 25 de Abril), que se tinham vindo refugiar no Palácio de S. Lourenço. As palavras de ordem mais ouvidas nessa manifestação foram “A Madeira não é o caixote do lixo” e “Eles devem ser presos e julgados”. Acabaram por ser apoiados e, na clandestinidade, foram para o Brasil sem que nada lhes tivesse acontecido.

A partir de então, com altos e com baixos, o 1º de Maio foi sempre comemorado na rua. Sempre foi um dia em que os sindicatos e os/as trabalhadores/as, mais conscientes, aproveitavam para reivindicar e expor as situações dos diferentes sectores. Nestes 46 anos, vivemos diferentes situações muito complicadas de despedimentos, precariedade laboral, falta de cumprimento dos Contratos Coletivos de Trabalho, falta de higiene e segurança no trabalho, salários em atraso, baixos salários, etc., etc.... Mas, também, vivemos situações de muito convívio e de muita solidariedade que faziam, deste dia, um dia maior nas nossas vidas, enquanto trabalhadores/as.

Todos os anos saíamos para a rua e fazíamos do 1º de Maio o dia das nossas reivindicações e aspirações. Sentíamos que não estávamos sós, porque os/as trabalhadores/as em todos os países do mundo também estavam na rua como nós, com as suas reivindicações, logo este dia era o mais internacionalista da luta dos/as trabalhadores/as do mundo inteiro. Era um grande sentimento de comunhão mundial que nos unia, mesmo vivendo numa ilha a meio do Atlântico.

Este ano, para além de estarem proibidas as manifestações por estarmos a viver em estado de emergência, as poucas coisas que vão ser feitas na rua, como “conferências de imprensa com afastamento social”, seja lá o que isso for, também nelas não podem participar trabalhadores/as reformados/as e crianças, porque a CGTP IN aceitou fazer um acordo com o Governo da República nesse sentido.

Nem queria acreditar que isto fosse verdade até ouvir, num tempo de antena da Central Sindical onde fui dirigente durante mais de 20 anos, a própria Secretária Geral dizê-lo, com todas as palavras. “ Nestas ações de rua, não podem participar reformados e crianças”.

Confesso que esta questão da idade, na situação que estamos a viver, já me cansa. Eu não queria dizer isto mas, já agora, é bom lembrar, para que se mexa com algumas consciências, que se não fossem as pessoas que hoje estão reformadas, muitas das conquistas, que hoje são postas em causa por causa duma pandemia, não teriam existido. Como havia pouco para reivindicar, os últimos anos foram, essencialmente, de defesa do que já estava conquistado, e nalgumas coisas até de retrocesso no que tinha sido alcançado. Um pouco mais de humildade e respeito pela história da luta dos/as mais velhos/as não ficaria nada mal. Hoje há milhares de trabalhadores/as em desespero pelo seu futuro e, isto sim, é que deveria ser o mais importante para quem é sindicalista, em vez de proibir a presença das pessoas mais velhas.

E, já agora, não venham dizer que nos querem proteger. Se somos pessoas mais velhas é porque vivemos e estamos mais perto de partir. É a lei da vida. Deixem que sejamos nós a decidir, não decidam aquilo que devemos fazer porque não nos podem tirar a nossa liberdade, que foi o bem mais precioso que tivemos durante estes 46 anos. Não nos tratem como se fossemos pessoas que não sabem pensar. A esmagadora maioria de nós tem a noção do risco e sabe proteger-se, mas não quer ser tratada com menoridade em nome de uma proteção, muitas vezes de caráter duvidoso.

Agradeço à minha família de coração todo o apoio, porque esses sim, preocupam-se comigo, e fazem sacrifícios para que eu não esteja só, respeitando a minha autonomia e tratando-me como uma igual.

VIVA O 1º DE MAIO!

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