Gasolina na Venezuela passou a ser a mais cara do mundo e está escassa
Na Venezuela, país que tem uma das maiores reservas de petróleo do planeta, a gasolina passou de ser a mais barata para ser a mais cara do mundo e está cada vez mais escassa.
No passado, com um valor abaixo do preço de uma garrafa pequena de água, era possível encher o depósito, mas a escassez fez surgir o mercado negro de combustível, onde cada litro de gasolina custa mais de 3 dólares (2,76 euros).
O combustível é altamente procurado a nível nacional, mas apenas as forças de segurança têm abastecimento garantido.
O racionamento afeta cada vez mais setores prioritários da economia e faz-se sentir inclusive em Caracas, onde as pessoas passam dois e três dias em filas, com a esperança, muitas vezes frustrada, de conseguir os 20 ou 30 litros da gasolina que o Governo distribui.
“Estão a vender a gasolina (no mercado negro) a 3 dólares (2,76 euros) por litro. É mais cara do que em qualquer outro lugar do mundo e estamos num país petrolífero. Isso é contrário à nossa revolução, ao nosso idealismo”, explicou um venezuelano à Agência Lusa.
Manuel Garzón, corretor de seguros, esteve, sem sucesso, mais de 30 horas em fila numa estação de Caracas. Contrariado, desabafou que “toda a vida tenho sido chavista, estou com a revolução”, mas o que acontece “é contrário” à sua ideologia.
E insiste, que é preciso “mão dura na distribuição de gasolina” porque “há bandidos a fazer negócio”.
“Estão a vender (no mercado negro) o bidão de 20 litros de gasolina a 45 dólares (41,50 euros). Como é isso possível? A gasolina é mais cara aqui que nos EUA (...) Nós precisamos de gasolina. É incompreensível ter de estar dois ou três dias na fila. Pode haver uma explosão (social), oxalá que esta gente (do Governo) tome consciência disso”, disse.
Garzón insiste que “há muitos trapaceiros e intermediários a revender e a contrabandear a gasolina” e isso é mau “porque todos culpam o Governo” e a falta de combustível “bloqueia” a distribuição de comida e ocasiona muitos problemas.
“Quem precisa de gasolina é porque tem família, tem de mobilizar-se. Não é para sair de passeio, mas para cobrir necessidades básicas. Que tomem (no Governo) consciência, de que esta situação está a chegar ao limite e pode escapar-lhes das mãos”, frisou.
Por outro lado, o luso-descendente José Daniel Gonçalves, esteve, sem sucesso, pela segunda vez numa semana, uma noite e parte de um dia na fila para gasolina, em Caracas.
Na quinta-feira de manhã, tinha 198 carros à frente. Foi a pé até à bomba onde soube que abasteceriam primeiro o transporte público de passageiros e depois 150 motocicletas. No entanto a gasolina acabou antes de ser atendido.
“A gasolina é um produto de primeira necessidade. Em casa tenho um menino (de 3 anos) e uma anciã. Pelo menos um carro tem de ter gasolina, para uma emergência, para ir a uma clínica, a um hospital, ou buscar um medicamento”, disse.
Por outro lado, explicou que trabalha a fazer entregas de comida (almoços) ao domicílio, com uma motocicleta, porque consome menos gasolina.
“Mas tenho que ter gasolina, porque com a epidemia da covid-19, as pessoas não podem sair e eu faço-lhes a entrega”, frisou.
José Daniel espera que a situação se solucione rapidamente e lembra-se que em 2015 houve uma situação complicada de escassez de vários produtos no país.
“O Governo já está a regular (fixar) os preços dos produtos e não vejo sinais positivos para o futuro. Espero estar enganado, que as coisas fluam, porque vamos voltar a passar necessidades”, concluiu.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 230 mil mortos e infetou quase 3,2 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
Cerca de 908 mil doentes foram considerados curados.