Pandemia sublinhou a importância de ter serviço público de saúde sustentável
O investigador Pedro Simões Coelho considera que a pandemia de covid-19 deu aos cidadãos uma maior consciência da importância de ter um serviço público de saúde sustentável e de cada um fazer a sua parte para prevenir a doença.
O especialista da Escola da Gestão de Informação (NOVA IMS) da Universidade Nova de Lisboa diz que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) se vai tornar numa prioridade maior a nível mundial” e que as questões da sustentabilidade, que têm que ver com a qualidade do sistema e a sua capacidade de dar resposta à procura e de o fazer sem um crescimento desproporcionado de custos ou da divida, “vão estar ainda mais na ordem do dia”.
Pedro Simões Coelho, que é coordenador do estudo anual que a NOVA IMS desenvolve sobre a sustentabilidade do SNS, defende também que os cidadãos vão sair desta pandemia com uma maior consciência do funcionamento do Serviço Nacional de Saúde e da sua qualidade e uma maior capacidade de o comparar com outros sistemas: “No próximo ano, quando saírem os resultados do índice de sustentabilidade do SNS com toda a certeza que vamos ver isso”.
Defende que os portugueses ficarão ainda com uma maior consciência coletiva da responsabilidade individual de cada um na prevenção da doença: “Nunca, como antes, isto se tornou tão evidente. Vamos sair deste processo com a consciência de que o resultado final não depende só de haver ventiladores ou dos cuidados de saúde que recebemos, mas que depende muito das nossas ações”.
“E este pensamento pode ser generalizado a outros comportamentos que têm impacto noutro tipo de doenças, como as do foro oncológico ou do foro cardiovascular”, acrescentou
Outros dos ensinamentos que a pandemia pode trazer, segundo o especialista, tem que ver com a entrada no sistema: “Um exemplo paradigmático é a linha Saúde24. Os percursos que sempre foram recomendados para acesso ao sistema vão tornar-se mais evidentes e, no médio a longo prazo, isto vai ter impactos positivos na procura”.
“Historicamente, muita gente usa a urgência hospitalar como porta de entrada no sistema, legitimamente, pois acreditam que é a forma mais fácil de entrar num sistema que tem tempos de espera. Agora, haverá uma maior consciência de que podemos ter outros caminhos para lá chegar”, concluiu.
O que o sistema de saúde tem de fazer, defende, “é aproveitar a parte da redução que ocorreu por razões positivas e torná-la mais perene depois da pandemia e fazer com que estas pessoas -- que verdadeiramente não precisavam de uma urgência -- tenham uma utilização mais racional” deste serviço.
A covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já provocou em todo o mundo mais de 230 mil mortes e infetou quase 3,2 milhões.
Em Portugal, os últimos dados oficiais registam quase mil mortos associados à covid-19 e mais de 25.000 pessoas infetadas.