Pandemia obriga a celebrar Páscoa com missas sem fiéis e sem procissões
As celebrações pascais em Portugal, à semelhança de outros países, são vividas em casa, sem reunião com os sacerdotes e fiéis quer em missas quer nas tradicionais procissões, devido à pandemia da covid-19.
A 20 de março, o Vaticano emitiu uma declaração a sugerir que nas celebrações da Páscoa, as habituais procissões da Semana Santa sejam realizadas nos dias 14 e 15 de setembro devido à pandemia e que não se realize a cerimónia de lavagem dos pés, na Quinta-feira Santa, bem como a procissão final.
Menos de uma semana depois emitiu um novo decreto atualizando as indicações considerando que os ritos da Semana Santa devem ser realizados pelos bispos e presbíteros sem a participação de fiéis, pedindo, contudo, que as comunidades católicas sejam informadas do horário de início das celebrações, para que possam assistir através das transmissões ao vivo, nos meios de comunicação social e redes sociais.
A missa crismal poderá ser realizada noutra data, estando a decisão dependente da avaliação da situação concreta de cada país e a vigília pascal deve celebrar-se exclusivamente nas igrejas catedrais e paroquiais.
Em Portugal, numa carta dirigida aos bispos, a Conferência Episcopal Portuguesa explicava que são inéditas estas circunstâncias em que são chamados a celebrar a Páscoa de 2020.
“As atuais restrições impostas no respeito pelo bem da saúde pública obrigam-nos a celebrar o mistério pascal em condições limitadas, sem nos podermos reunir com os sacerdotes e demais fiéis”, escrevem o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Manuel Clemente, e o Vice-Presidente, António Marto, na saudação pascal aos bispos enviada na sexta-feira.
As celebrações da Páscoa vão acontecer em privado e sem as assembleias de fiéis, como é habitual e nem mesmo as procissões tão tradicionais em algumas zonas do país poderão ser realizadas.
Contudo estão programadas as celebrações nas dioceses com transmissão televisiva e nas redes sociais em todas as regiões do país para a missa vespertina da ceia do Senhor, que se realiza na quinta-feira, para a celebração da paixão, na sexta-feira, para a vigília pascal, no sábado, e para eucaristia da Ressurreição, no domingo
O exemplo veio de Roma, no domingo de Ramos, a 05 de abril, quando o Papa Francisco celebrou a missa na Basílica de São Pedro sem fiéis.
O Cardeal Patriarca de Lisboa repetiu o exemplo celebrando a missa de Domingo de Ramos numa igreja vazia e com transmissão na televisão, enquanto o Santuário de Fátima também, pela primeira vez na sua história, anunciou a realização das celebrações da semana santa sem peregrinos, à porta fechada, sendo transmitidas pelos meios de comunicação social e meios digitais.
Em Braga, o arcebispo informou o cancelamento do “Compasso/Visita Pascal”, no Domingo de Páscoa (12 de abril), na segunda-feira seguinte ou no Domingo de Pascoela, numa nota em que convida a “lutar de forma original contra o coronavírus”, tendo, entretanto, sido criadas iniciativas para promover a celebração “a partir de casa” através do Facebook
A Comissão da Quaresma e Solenidades da Semana Santa, a Arquidiocese de Braga e o município de Braga prometeram “um programa digital” que permite celebrar a Semana Santa 2020 “com um simples acesso à Internet” até ao dia 12 de abril, domingo de Páscoa.
Canceladas foram também festas em concelhos como o de Constância, que tradicionalmente realiza a festa de Nossa Senhora da Boa Viagem no fim de semana da Páscoa e em Matosinhos
Em Idanha-a-Nova, Castelo Branco, a população vai celebrar o Sábado de Aleluia a partir das janelas e varandas das habitações.
O Sábado de Aleluia, que integra a agenda dos mistérios da Páscoa, publicação que calendariza as 270 tradições quaresmais e pascais que o município acolhe durante 90 dias, é celebrado em Idanha-a-Nova, de uma forma intensa, onde normalmente a multidão com apitos ou chocalhos manifesta nas ruas a sua alegria, de forma ruidosa, pela ressurreição de Cristo.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 1,3 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 75 mil.
Dos casos de infeção, cerca de 290 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com cerca de 708 mil infetados e mais de 55 mil mortos, é aquele onde se regista o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, contabilizando 16.523 óbitos em 132.547 casos confirmados até segunda-feira.
Em Portugal, segundo o balanço feito na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 345 mortes, mais 34 do que na véspera (+10,9%), e 12.442 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 712 em relação a segunda-feira (+6%).
Dos infetados, 1.180 estão internados, 271 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 184 doentes que já recuperaram.