Entidades públicas são obrigadas a pagar por espectáculos cancelados
A Assembleia da República aprovou hoje duas propostas incluídas num projeto de lei do Bloco de Esquerda (BE) que preveem o pagamento, por entidades públicas, de espetáculos cancelados como se se tivessem realizado.
Numa maratona legislativa, o projeto de lei do BE foi aprovado, com os votos a favor de PS, BE, PCP, PAN e da deputada não-inscrita Joacine Katar Moreira, mas a aprovação só foi feita em relação a duas alterações de um artigo do decreto-lei de 26 de março, que regula os espetáculos cancelados ou adiados, sendo o resto do projeto de lei rejeitado.
Em concreto, as duas alterações dizem respeito ao artigo 11.º, que visa os “espetáculos promovidos por entidades públicas”, explicitando que essas mesmas entidades devem garantir “o pagamento de todos os valores devidos, em razão da atividade que venha a ser cancelada, a todas as pessoas, singulares ou coletivas, incluindo autores, artistas, trabalhadores e prestadores de serviços, pelo montante total contratado ou previsto, como se a atividade fosse realizada na data prevista para o efeito”.
“Nos casos de adiamentos e reagendamentos, a realização dos pagamentos nas datas previstas antes do cancelamento ou adiamento e, o mais tardar, na data que se encontrava inicialmente agendada, num mínimo de 50% do valor acordado, sem prejuízo de negociação com vista à recalendarização da atividade”, acrescenta o documento, que estabelece que os contratos devem ser finalizados mesmo quando a programação foi apenas anunciada.
O outro ponto aprovado do projeto de lei do BE abrange os “intermediários”, definindo que sempre que os pagamentos forem feitos a “agentes, produtores e companhias de espetáculo ou a quaisquer outros intermediários, devem estes, no prazo de dez dias uteis, após receberem o pagamento da entidade pública contratante, utilizar um valor não inferior a 80% dos montantes recebidos para efetuar o pagamento proporcional e equitativo aos trabalhadores envolvidos, designadamente autores, artistas outros profissionais e empresas que tenham sido contratados para o espetáculo em questão, sem prejuízo da cobrança proporcional de comissões que lhes sejam devidas”.
Os demais artigos do projeto de lei foram chumbados, com os votos contra de PS, PSD e Chega e as abstenções de CDS e Iniciativa Liberal. O PCP anunciou que iria apresentar uma declaração de voto.
PCP, esse, que viu ser chumbado o seu projeto de lei que criaria um Fundo de Apoio Social de Emergência ao tecido cultural e artístico, com os votos contra do PS, PSD, CDS, Iniciativa Liberal e Chega.
Os dois projetos de lei, únicos apresentados em específico para a área da Cultura, tinham recebido o apoio de dezenas de agentes e promotores culturais em várias cartas abertas de apelo à defesa do setor.
Também hoje, foi anunciado que o PAN chamou a ministra da Cultura, Graça Fonseca, ao parlamento para falar sobre os apoios aos setores tutelados, algo que acontecerá no dia 15 deste mês, também por via de um requerimento do PS.