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Investigadores da Champalimaud descobrem mecanismo que influencia escolhas alimentares

EPA/PETER POWELL
EPA/PETER POWELL

Investigadores da Champalimaud descobriram um novo mecanismo orquestrado entre o sistema digestivo e o cérebro que faz com que os animais procurem determinados alimentos e que pode ajudar a perceber alguns distúrbios relacionados com alimentação, como a obesidade.

Os mais recentes resultados desta investigação, da responsabilidade do investigador Albino Oliveira-Maia, diretor da Unidade de Neuropsiquiatria do Centro Champalimaud, foram publicados hoje na revista científica Neuron.

De acordo com a Fundação Champalimaud, o investigador Albino Oliveira-Maia tem vindo a trabalhar para encontrar respostas a várias perguntas, entre as quais saber sobre o que é que “conversam” os sistemas digestivo e nervoso e como é que isto pode influenciar o comportamento e, neste caso, as escolhas alimentares.

“A boca é o primeiro local de controlo -- onde é feita a decisão sobre se a comida deve, ou não, ser ingerida”, explica o investigador, acrescentando: “uma vez dentro do organismo, a comida é divida em nutrientes e começa a pós-ingestão”.

Nesta fase, é a vez do sistema digestivo ‘provar’ a comida e conversar com o cérebro sobre a sua escolha de refeição”, adianta uma nota da Fundação Champalimaud.

Segundo o investigador, os processos pós-ingestão podem ser divididos em dois: o primeiro lida com o presente, avaliando quão nutritivo é o alimento e a quantidade que deve ser consumida, e o segundo é um processo de aprendizagem que determina como, no futuro, o organismo deve reagir a esse alimento.

“A avaliação que um organismo faz acerca do valor nutricional de um alimento e que leva um indivíduo a desenvolver uma preferência por esse alimento é um exemplo dessa ‘aprendizagem pós-ingestão’”, explica a Champalimaud, em comunicado.

E como é que tudo isto funciona? Segundo décadas de estudos nesta área, esta aprendizagem pós-ingestão é o que leva animais e humanos a desenvolverem preferência por alimentos mais nutritivos.

Oliveira-Maia e a sua equipa interrogaram-se sobre se esses sinais pós-ingestão poderiam estar envolvidos noutros tipos de aprendizagem e procuraram saber o que leva humanos e animais a procurarem ativamente determinados alimentos.

Para isso, desenvolveram uma tarefa na qual os animais pressionavam alavancas para receber a comida por uma injeção diretamente no estômago e concluirão que, mesmo sem provar a comida, os ratinhos desenvolveram uma clara preferência para a alavanca previamente associada à administração do alimento de alto valor calórico.

Depois, foram avançando para a identificação do mecanismo fisiológico envolvido, e tentaram perceber como é que as informações sobre o valor nutricional chegam ao cérebro, analisando o nervo vago, que “estabelece ligações bidirecionais entre o cérebro e vários órgãos internos”.

Desta forma, os investigadores perceberam, através da ligação hepática (ao fígado) do nervo vago que era por aí que se transmitiam os sinais pós-ingestivos ao cérebro durante o processo de aprendizagem.

Depois foi a vez de perceber para onde, no cérebro, estavam a ser enviados os sinais pós ingestão, tendo descoberto que os neurónios da dopamina estavam envolvidos nesse novo processo de aprendizagem.

Por fim testaram, e comprovaram, que os neurónios são influenciados pelo ramo hepático do nervo vago.

“Ficou demonstrado que os neurónios da dopamina respondem a recompensas, por exemplo, quando um doce chega à nossa língua”, explica na nota o neurocientista Rui Costa, também envolvido na investigação, acrescentando: “Este estudo mostrou que esses neurónios também são ativados quando o alimento chega ao estômago e ao intestino”.

“Além disso, demonstrámos ainda que, quando os nutrientes chegam ao intestino, a ativação dos neurónios da dopamina é fundamental para desencadear o comportamento da procura de alimento”, acrescentou.

“Em conjunto, os resultados do estudo revelam um novo processo de aprendizagem -- orquestrado entre o sistema digestivo e o cérebro -- que faz com os animais procurem determinado tipo de alimentos sem nunca terem sentido o seu sabor, o que comprova a influência de processos subconscientes no controlo do comportamento alimentar”, refere a nota.

O investigar Oliveira-Maia considera que, embora possa não ter aplicações clínicas imediatas, este trabalho poderá ser relevante para a compreensão e tratamento de distúrbios relacionados com a alimentação, como a obesidade.

“Ainda é muito cedo para saber onde este estudo nos levará. Contudo, foi a relação entre alterações de recetores de dopamina e obesidade que inspiraram o desenvolvimento deste trabalho”, conclui o investigador.

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