Morreu o curador italiano Germano Celant, que baptizou a “Arte Povera”
O curador e crítico italiano Germano Celant, nome fundador da “Arte Povera”, morreu na quarta-feira, aos 80 anos, em Milão, na sequência de infeção causada pelo novo coronavírus, noticiou a edição ‘online’ do jornal La Repubblica.
Nascido em Génova, em 1940, Germano Celant foi o principal promotor da “Arte Povera” (”Arte Pobre”), ao dar esta designação ao movimento de vanguarda artística italiana da década de 1960, marcado pelo recurso a materiais não convencionais, “pobres” ou “humildes”, e pela recuperação da relação com a natureza, por oposição ao artifício e ao consumo que então se afirmava.
A abordagem crítica de Celant colocou em primeiro plano os percursos artísticos de criadores como Jannis Kounellis, Lucio Fontana, Piero Manzoni, Alberto Burri e Michelangelo Pistoletto, protagonistas da chamada “Arte Povera”, levando-os das pequenas galerias do seu país aos principais museus de arte contemporânea, como o Guggenheim e o de Arte Moderna (MoMA), de Nova Iorque.
Celant “era um teórico, um caçador de talentos, um curador entre os poucos que conseguiram espalhar o ‘Made in Italy’ pelo mundo”, escreve o jornal La Repubblica, que recorda a exposição de arte contemporânea “A Metamorfose Italiana 1948-1968”, no Guggenheim, e a sua ação como curador sénior do Centro Pompidou, em Paris.
Em 1983, Germano Celant foi um dos intervenientes nos debates que acompanharam a exposição “Depois do Modernismo”, da Sociedade Nacional das Belas-Artes, em Lisboa, com curadoria de Cerveira Pinto, Leonel Moura e Luís Serpa, e que mobilizou artistas, curadores, historiadores e críticos como Julião Sarmento, Pedro Calapez, Vítor Pomar, Ernesto de Sousa, José Luís Porfírio e Eduardo Prado Coelho.
Diretor da Bienal de Arte de Veneza em 1976 e 1997, em anos mais recentes Celant supervisionou os projetos artísticos da Fundação Prada, em Milão e Veneza.
Em 2013, no Palazzo Corner della Regina, no Grande Canal de Veneza, retomou a mostra do artista alemão “When Attitudes Become Form” (”Quando as atitudes ganham forma”), que montara em Berna, na Suíça, em 1969, e que marcou a prática da curadoria, ao constituir uma das primeiras demonstrações em larga escala de expressões de arte contemporânea.
Sempre vestido de negro, apaixonado por bilhar, como recorda o jornal La Repubblica, Germano Celant recusava-se a ser considerado o “inventor da Arte Povera”: “Não inventei nada”, disse. Apenas a designou.
Para a Bienal de Veneza de 2019, Celant concebeu uma homenagem ao seu amigo Jannis Kounellis, artista greco-italiano que morreu em 2017, combinando resíduos e objetos da vida quotidiana, a que a “Arte Povera” dera “novos significados”, estabelecendo “um poema inesperado”, escreveu o jornal italiano.
A Bienal de Arte de Veneza expressou o seu “profundo pesar” pela morte do curador, que definiu como uma figura inspiradora para o mundo da arte.
O ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini, lamentou igualmente a morte do “grande exponente” da arte contemporânea, considerando que “deixa Itália empobrecida [com a perda] do seu génio e do seu talento”.
Celant, que se encontrava internado nos cuidados intensivos no hospital São Rafael de Milão há quase dois meses, manifestou os primeiros sintomas da doença covid-19 no início de março, quando regressou dos Estados Unidos.