População rompe quarentena em protesto contra a escassez de gasolina na Venezuela
Os protestos contra a escassez de gasolina continuam na Venezuela, com a população a romper a quarentena preventiva da covid-19 e a sair às ruas em várias regiões do país para exigir respostas das autoridades.
Em El Vigia, Mérida, 750 quilómetros a sudoeste de Caracas, pelo segundo dia consecutivo, centenas de motoristas e agricultores saíram a protestar para exigir soluções à má qualidade dos serviços públicos e abastecimento de combustível.
Como parte do protestos, motoristas e agricultores, concentraram-se junto da rádio Ondas Panamericanas, onde o presidente da Câmara Municipal de El Vígia, Mezin Abou Assi, tem um programa de rádio semanal.
Segundo as rádios locais, o munícipe apresentou-se no lugar, ouviu os motoristas e agricultores, mas não chegaram a nenhum acordo.
Os agricultores queixam-se de que estão “cansados de desculpsa” e que estão a perder as suas colheitas porque a falta de combustível impede que façam a distribuição desde os campos às cidades.
Por outro lado, na Cidade Bolívar, no Estado de Bolívar (580 quilómetros a sudeste de Caracas), e em Caripe, no estado de Monágas (540 quilómetros a leste de Caracas), motoristas e motociclistas bloquearam duas importantes estradas em protesto pela falta de gás doméstico e de gasolina.
Os agricultores dizem que mais de 90% não tem gasolina e que sem combustível não podem “salvar” os cultivos e abastecer os mercados locais.
Em Miranda, a sul de Caracas, centenas de pessoas romperam a quarentena e saíram às ruas de Los Teques, depois de as autoridades restringirem a circulação de viaturas até ao centro daquela cidade.
Em Caracas, a capital do país, os residentes em La Candelária (centro) estão há um mês e meio sem água, uma situação que questionam, em tempos de coronavírus.
O coordenador da Frente de Defesa do Norte de Caracas, Carlos Júlio Rojas, afirmou que há zonas da capital que apenas têm água durante duas horas uma vez à semana, uma situação “desumana no meio da pandemia”.
“Mandam-nos lavar as mãos todos os dias e extremar as medidas de higiene devido à covid-19, mas conseguir um pouco de água é um calvário, mais ainda para as pessoas da terceira idade”, disse aos jornalistas.
Na semana passada registaram-se protestos contra os altos preços dos produtos, dificuldades para comprar alimentos e escassez de combustível em pelo menos 10 dos 24 estados da Venezuela.
A Venezuela tem 329 casos confirmados e 10 mortes associadas ao coronavírus. Pelo menos 142 pessoas recuperaram da doença.
A Venezuela está desde 13 de março em estado de alerta, o que permite ao executivo decretar “decisões drásticas” para combater a pandemia. O estado de alerta foi decretado por 30 dias e prolongado por igual período.
Os voos nacionais e internacionais estão restringidos.
Desde 16 de março que os venezuelanos estão em quarentena e impedidos de circular livremente entre os vários estados do país.
A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 214 mil mortos e infetou mais de três milhões de pessoas em 193 países e territórios.
Mais de 840 mil doentes foram considerados curados.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.