Um incerto amanhã
Esta catástrofe clarificou que o Mundo está assente sobre quatro pilares fundamentais
É certo e sabido que depois desta pandemia o Mundo não voltará a ser o que era. Apesar da desgraça a todos os níveis, este liliputiano vírus veio provar que em muitas coisas estamos errados e é urgente arrepiar caminho, mas não para voltarmos ao que era antes porque aí é que reside o problema. Teremos que dar mais valor à coexistência e menos dependência de uma economia agressiva e sem regras. Não tenhamos ilusões, o covd-19 veio para ficar e alterar significativamente os nosso usos e costumes e o remédio é aprendermos a conviver com ele, tal como aprendemos a lidar com o HIV ou outras doenças contagiosas. Como tal precisamos, isso sim, ter um sistema de saúde cada vez mais robusto, com pessoas responsáveis capazes de responder a este enorme desafio como não existiu outro na nossa geração. Já alguém imaginou a grande calamidade se a Saúde estivesse privatizada? Onde iriam as pessoas arranjar dinheiro para se tratarem, ainda por cima desempregadas?
Paradoxalmente, quando as super potências se preparavam para a 3ª guerra mundial de devastação massiva gastando biliões em armamento, eis que ela surge repentinamente em forma de um esquálido vírus e sem disparar uma única bala e para o qual de nada serve um bunker pois a nossa casa é o único refúgio.
Aos poderosos, do alto da sua arrogância, lembro que bastou um minúsculo vírus para nos igualar. Resta apenas saber se o Mundo aprenderá algo com esta pandemia e se o dinheiro aplicado em armamento será canalizado para a ciência. Os surtos epidemiológicos não são de agora o problema é que o ser humano nada aprendeu e volta a cometer sempre os mesmos erros ao não compreender que deveria investir mais na Saúde do que na guerra. Esqueceu que minúsculas, mas letais, bactérias emanados da natureza podem causar mais danos na humanidade do que uma guerra. Não aprendeu com a peste bubónica, (peste negra), que causou cinquenta milhões de mortos entre 1333 e 1351 na Europa e na Ásia, a cólera que dizimou centenas de milhar de pessoas entre 1817 e 1824, a tuberculose que ceifou a vida a cerca de um milhão de almas entre 1850 e 1950, a varíola que já causou cerca de 300 milhões de mortos entre 1896 e 1980, para não falar da gripe espanhola, do tifo ou da febre amarela. Depois de todas estas pandemias e apesar da grande evolução tecnológica acentuada em meados do século XX, o ser humano apenas aprendeu a preocupa-se em ser mais poderoso que o seu semelhante, usando o poder do dinheiro, curiosamente, para provocar conflitos mundiais que trazem mais sofrimento e morte. Insisto na questão: será desta que os grandes líderes aprenderão a interagir com a natureza admitindo humildemente que ela é mais forte? Os norte-americanos estão a pagar um preço elevado porque o Trump pensou que era mais forte que a natureza e os brasileiros irão ter a mesma sorte, ou pior, porque o desmiolado do Balsonaro desvalorizou o “bicho” classificando-o como uma “gripezinha”
Esta catástrofe clarificou que o Mundo está assente sobre quatro pilares fundamentais; a Saúde, incluindo a mental, que demonstrou claramente não estar preparada, a economia que está a derrapar e após esta pandemia deixará uma epidemia de miséria e fome nos países mais pobres, a social cujas consequenciais por agora não conseguiremos quantificar e a ambiental onde, para os céticos, ficou provado que para a atmosfera reequilibrar-se teria que evitar o excesso de consumo de combustíveis fosseis que pouparia a emissão de um milhão de toneladas/dia de CO2 para a atmosfera. Ficou provado que a natureza não precisa de nós para nada mas nós, com a nossa pungente fragilidade, dependemos totalmente dela. Todos os governos do Mundo demonstraram claramente não estarem preparados para tamanha provação e só agora começam a perceber que esta calamidade lhes colocou nos braços um caso de dimensões imprevisíveis. Talvez agora pensem duas vezes antes de decidirem privatizações, só porque sim, quer na Saúde, na Banca, nos transportes aéreos ou terrestres, assim como outras áreas vitais para a sobrevivência da população porque os grandes grupos económicos, ao mínimo abalo, correm todos para os braços do Governo. Para eles apenas contam os lucros e quando as empresas apresentam prejuízos vão logo entrega-las ao Estado pois sabem que os contribuintes pagarão a fatura. Como exemplo temos a TAP que um governo de má memória privatizou e que está agora a mendigar o auxílio do Governo. Onde está o David Neeleman, armado em grande empresário, que usou a nossa TAP para canalizar turismo para o Brasil e que distribuiu prémios pelos seus gestores? Quem lhes pedirá contas por má gestão? Dir-me-ão! Mas a Banca que os portugueses salvaram com seus impostos vai agora ajudar-nos! Pois vai, porque também é do interesse dos banqueiros mas não tenhamos ilusões porque essa ajuda não é grátis e será paga com juros, faltando apenas saber o período de carência. Ficou provado que as grandes empresas se, enquanto públicas não funcionam, enquanto privadas também não. Umas ou outras precisam mas é de gestores responsáveis que seriam castigados por gestão danosa ou recompensados por boa gestão.
Pela nossa saúde fique em casa pois, melhor que as palmas, será o isolamento social para demonstrar aos nossos profissionais de saúde que lhes estamos gratos pela sua abnegação e sacrifício.