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Crónicas

Da China

1. Livro: “O Livro Negro do Comunismo”, de Stéphane Courtois e outros. De imprescindível leitura, escrito em jeito de relatório onde evidências não faltam, a atestar o como foram e são sanguinários os regimes comunistas. Pela crueza como são apresentados os factos, é um livro difícil e chocante.

2. Disco: no final do mês de Março, saiu “Ghosts” dos Cowboy Junkies. É um disco para ouvir com atenção. Não é o melhor trabalho da banda. É um disco emocional onde a raiva, o remorso, a descrença, o medo, estão presentes. Música para estes tempos.

3. A China, como regime comunista que é, tem uma enorme dificuldade em reconhecer os erros que comete amiúde, pois o comunismo nunca falha. Esta questão da Covid-19 pode tornar-se no Chernobyl do regime chinês. Fizeram aquilo que sabem fazer melhor: negar evidências, esconder as asneiras e varrer para debaixo do tapete a porcaria que fizeram.

Para espanto de muitos, a China, e o seu regime hediondo, já aí andam há muito tempo. Não começou há seis meses, nem há um ano.

O seu processo de branqueamento iniciou-se logo após a morte de Mao, em 1976. Por conveniência, inventaram o esquema de “um país, dois sistemas”, com medidas extremamente atractivas para a indústria estrangeira, que dispunha ali de mão-de-obra muito barata e controlada.

As democracias de modelo ocidental, sustentadas na economia de mercado, tornaram-se condescendentes com um dos mais sanguinários regimes que o mundo já viu.

Desde o momento inicial em que Mao, e os comunistas que o seguiam, conquistaram o poder, depois da Grande Marcha, que o regime se sustentou numa enorme repressão, baseada em três princípios: expurgar, planear e reprimir. Na fase do expurgamento, procurou-se limpar tudo o que cheirasse a oposição. Todo o proprietário de terra, por menor que fosse o talhão, era um latifundiário. Promoveu-se a delação em encontros inenarráveis que terminavam sempre em morte. Estima-se que, nessa fase, tenham morrido, na China, entre 1 e 5 milhões de camponeses. O número certo nunca se saberá. Depois, a campanha dirigiu-se para as cidades, com a perseguição dos chamados contra-revolucionários: essencialmente funcionários públicos, intelectuais e artistas suspeitos de deslealdade ao Partido Comunista. Acarinhou-se a bufice, em troca do reforço da ração alimentar. Tudo era passível de ser denunciado. Pelo menos 712.000 pessoas foram executadas, 1.290.000 foram presas em campos de trabalho e 1.200.000 foram sujeitas a controlo. O suicídio aumentou, exponencialmente, para números difíceis de contabilizar. Nem a filiação partidária servia de salvo-conduto, de certificado de vida.

Em 1957 chega a campanha do “Desabrochar de Cem Flores”. Para corrigir e melhorar o sistema, incentivou-se a crítica. De início a sociedade chinesa, porque muito reprimida, não reagiu, pois não acreditava na abertura. Com o tempo, e com os contínuos incentivos por parte do regime, começaram a chover críticas. Não demorou muito para que o Partido se fartasse delas e as identificasse como vindo de “direitistas burgueses”. O “Grande Timoneiro” (Mao) restaurou o maoismo e iniciou uma nova vaga de repressão. Entre presos e mortos, calcula-se um número de cerca de 550 mil pessoas, na sua maioria com um nível de educação superior. A purga resultou em pleno.

Eis-nos chegados ao “Grande Salto em Frente”, entre 1958 e 1960. Uma das maiores catástrofes da história. Colectivização total das terras (depois de uma reforma agrária ter criado uma classe de proprietários de pequenos lotes) e planeamento completo da agricultura, conforme determinado por planos completamente disfuncionais. O que plantar, como plantar, onde plantar, quando plantar e onde vender. Tudo decidido por burocratas do partido que não percebiam nada de agricultura. Como cereja no topo do bolo, uma industrialização forçada de mão-de-obra camponesa completamente desqualificada para trabalhar em fábricas. “Para impedir que os pássaros comessem os grãos, os pardais foram exterminados, o que aumentou imensamente o número de parasitas. Erosões e enchentes tornaram-se endémicas. Plantações de chá foram transformadas em plantações de arroz, sob o argumento de que o chá estava em decadência e era coisa de capitalista” – in “O Livro Negro do Comunismo”, de Stéphane Courtois e outros. Nada funcionava e tudo corria na direcção a uma enorme catástrofe. Como resultado veio a “Grande Fome”. O governo decidiu que o consumo de proteínas e de gorduras era desnecessário. A taxa de mortalidade subiu para uns enormes 68% e a natalidade aproximou-se do zero. Mortos por inanição, fraqueza, desnutrição. Os números mais favoráveis, falam de 20 milhões de mortes, os mais desfavoráveis, de 45 milhões.

De quem foi a culpa de tudo isto? Nunca de Mao e da sua “entourage”. Rapidamente se arranjaram bodes expiatórios que encheram enormes campos de concentração, alguns deles com mais de 50 mil pessoas. Critério para as prisões? Nenhum. Bastava estar no sítio errado à hora errada. Culpar o regime? Nunca.

Chega a “Grande Revolução Cultural Proletária” e o “culto da personalidade”. Mao é o centro de tudo. Exigindo-se-lhe uma adoração quase religiosa. O seu livrinho de citações espúrias tinha que andar no bolso de toda a gente, sob pena de prisão imediata para quem o não tivesse. Embora oficialmente terminado por Mao, no Congresso do Partido de 1969, na prática, este período durou até à morte do líder chinês. Estima-se que o resultado tenha sido de mais de um milhão de mortos.

O culto a Mao Tse Tung continua até hoje.

Depois da pseudo abertura do regime, não se pense que a coisa melhorou. Falun Gong, Tiananmen, prisão indiscriminada, tortura, país que mais aplica a pena de morte executando mais do que o resto do mundo todo. Nada mudou, a não ser um maior escrutínio da opinião pública mundial. O regime continue a ser o mesmo.

A admiração geral só existe agora porque, até aqui, foram pouco os que quiseram saber deste bando de sádicos que governam o país mais populoso do mundo.

4. O “Terror Vermelho” foi uma criação de Lenine. Teve o seu início a 5 de Setembro de 1918 e determinava que “todos os que tivessem qualquer relação com organizações, conspirações e motins contra-revolucionários deviam ser mortos a tiro”, sem processo judicial e de modo arbitrário. Durou até 1922, ao final da Guerra Civil Russa. Calcula-se que tenham morrido entre 100 e 200 mil pessoas.

No passado dia 22 de Abril, fez 150 anos que Lenine nasceu. O PCP chamou-lhe “genial continuador de Marx e Engels” e comemorou a data com alegria.

5. De Espanha vem a notícia de que as prostitutas vão ter direito ao rendimento mínimo, durante a crise pandémica. Não é difícil concluir que mais vale ser prostituta em Espanha do que sócio-gerente em Portugal.

6. Na semana passada o preço do petróleo deu um enorme tombo. Nos EUA chegou a ter valores negativos e o Brent esteve pouco acima dos 20 dólares.

Sempre quero ver como é que isto se vai reflectir nos preços dos nossos combustíveis. Daqui a dias, em vez de pagarmos pela gasolina só pagamos os impostos.

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