José Morais aponta êxito da Coreia do Sul ao uso habitual de máscaras
A Coreia do Sul é apontada como referência na gestão da pandemia de covid-19 e o êxito neste combate passa pelo uso generalizado de máscaras, defendeu o treinador português José Morais, do Jeonbuk Motors, campeão sul-coreano de futebol.
Com cerca de 10.700 casos e 242 mortes, o país resistiu à proximidade com a China, onde foi detetado o surto no final de dezembro, e ensaia o regresso a uma certa normalidade. A K League volta em 08 de maio com jogos à porta fechada e quase 44 milhões de eleitores foram mesmo chamados às urnas para votarem em eleições legislativas na semana passada -- algo possível com a utilização precoce e intensiva de testes e o hábito enraizado das máscaras de proteção nas ruas.
“Não houve a necessidade de o governo decretar [o uso de máscaras], porque, culturalmente, as pessoas aqui na Coreia já as usavam. As pessoas estavam tão habituadas que, quando apareceu esta situação, começaram a usar ainda com mais frequência. Já fazia parte do dia a dia da maior parte das pessoas”, disse à Lusa o técnico, de 54 anos, citando as preocupações com a qualidade do ar como o motivo para esta realidade na Coreia.
Por outro lado, o aconselhamento de utilização de máscaras de proteção -- e, em alguns casos, a sua obrigatoriedade - só recentemente foi adotado pelas autoridades portuguesas de saúde. Questionado sobre o porquê desta diferença de comportamento entre o seu país e a nação que o acolhe, José Morais -- que disse usar também este equipamento nas ruas de Jeonju - recusou fazer uma crítica e mostrou-se compreensivo.
“A qualidade do nosso ambiente é melhor do que na Ásia. E, se calhar, também não havia esse tipo de máscaras disponível no mercado. Se as pessoas tivessem conhecimento de uma realidade como a que se constata agora, penso que as medidas teriam sido tomadas muito antes. Estamos todos a viver a situação quase ao mesmo tempo”, explicou, além de enaltecer a atitude dos portugueses e os “esforços e sacrifícios” feitos durante esta quarentena.
O “novo normal” que se desenha em Portugal e noutras nações na sequência do ‘Grande Confinamento’ vai “manter-se por algum tempo”, avisou ainda o técnico campeão ao serviço do Jeobunk, sublinhando que, apesar do êxito na contenção da propagação do SARS-CoV-2, a Coreia do Sul está a reabrir “pouco a pouco” a atividade do país.
“Nem todas as atividades retomaram a normalidade. Algumas ainda estão paradas, como a educação, em que as escolas não reabriram, funcionam só de forma virtual. Há áreas que são mais importantes do que outras para que a economia do país não sofra. Vamos pensar que essas medidas são acertadas e ter os cuidados necessários para que não haja males maiores que advenham da necessidade de reativar os setores da sociedade que nos permitam viver”, acrescentou.
No entanto, para o bem e para o mal, José Morais vincou que a pandemia de covid-19 vai mudar em algumas coisas o futebol e a própria sociedade.
“A atitude global relativamente a certo tipo de assuntos muda, porque há um paradigma diferente. Vai fazer-nos avançar para soluções nunca pensadas e, provavelmente, para situações a que estaríamos antes mais relutantes”, sentenciou o treinador luso.