Alemanha decreta uso obrigatório de máscara mas nem todos cumprem
Numa das paragens da Potsdamer Strasse, em Berlim, vê-se ao longe uma mancha de cor, com 15 pessoas usando máscaras personalizadas à espera do autocarro, no metro o cenário é diferente e há quem não use.
Tal como na maioria dos estados federados da Alemanha, Berlim estreia hoje a obrigatoriedade do uso de máscaras de proteção, mas apenas nos transportes públicos. Isto é, o seu uso em supermercados ou farmácias, por exemplo, continua a ser apenas opcional.
Se Sachsen foi pioneira na imposição desta medida, Schleswig-Holstein é a exceção e só começa esta prática na próxima quarta-feira. Na maioria das regiões, o uso aplica-se aos transportes públicos e lojas com um nível de rigidez diferente.
Na estação do jardim zoológico de Berlim uma máquina vende máscaras a cinco euros e meio para quem se esqueceu ou ainda não conseguiu comprar. Fora da hora de ponta, a plataforma não tem muita gente e há quem não use nada, opte por um cachecol ou baixe a máscara.
Isabella, que espera na linha 2 com uma máscara preta colocada vai também tratando de manter a distância de segurança. Vai alternando a bicicleta com o uso de transporte público para ir trabalhar.
“Uso máscara há vários dias, não mudei o comportamento por causa da nova imposição. Mas preocupa-me que quem não siga esta regra não enfrente qualquer consequência”, admitiu em declarações à agência lusa.
Em Berlim não está prevista qualquer multa ou punição para quem não cumprir. Se um passageiro de um transporte público não usar máscara, não pode ser expulso pelo condutor ou impedido de circular.
Na Baviera, o maior estado federado da Alemanha e o mais afetado com a pandemia de covid-19, registando mais de 41 mil casos diagnosticados e 1.621 vítimas mortais, a imposição do uso de máscaras de proteção no nariz e na boca já vigora desde a semana passada.
O líder do governo bávaro, Markus Söder, cuja popularidade tem crescido durante esta crise provocada pelo novo coronavírus, impôs multas que vão desde os 150 euros para o cidadão comum que não cumprir a medida, a 5 mil euros para donos de lojas cujos funcionários violem a regra.
Já a Renânia do Norte-Vestefália, a região mais populosa da Alemanha e a segunda mais afetada, com 31.879 casos, decidiu que as multas deverão ficar a cargo dos reguladores municipais e não do governo regional.
O seu primeiro-ministro, Armin Laschet, que está na corrida para a liderança do partido de Angela Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), tem optado por deixar cair várias restrições e contrariado a vontade da maioria da população.
A alemã Isabella reconhece que “não é agradável” usar algo “a tapar constantemente o nariz e a boca”, mas considera necessário para conter a propagação do vírus.
“Não posso comer enquanto estou a usá-la, os meus óculos estão sempre embaciados e nestes dias de calor acaba por incomodar bastante, mas é melhor do que estarmos como Espanha ou Itália”, admitiu.
Em várias paragens de autocarro da capital a nova medida parece estar a ser cumprida, ainda assim, a distância de segurança é ignorada com várias pessoas próximas, como constatou a agência Lusa.
Berlim começa a recuperar a normalidade, mas há quem defenda que tudo está a ser feito rápido demais. Comércios com menos de 800 metros quadrados já abriram portas e os parques infantis vão poder voltar a ser usados já a partir de quinta-feira.
Angela Merkel, a chanceler alemã, já pediu aos 16 estados federados que atuem com cuidado na altura de relaxar a medidas de contenção, pedindo que não se precipitem para evitar uma segunda vaga de contaminação no país.
Hoje chegaram ao país mais de dez milhões de máscaras com origem na China. O pacote faz parte de um total de 25 milhões.
O maior avião de carga de mundo, que assegurou o transporte, aterrou em Leipzig e foi recebido pela ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer que já foi alvo de duras críticas precisamente por não ter usado qualquer proteção facial.
A Alemanha regista nesta altura 155.193 casos de covid-19 no país, 5.750 vítimas mortais e um total estimado de 114.500 pessoas recuperadas da doença.