Polícia identifica filho de Bolsonaro como líder de esquema de ‘fake news’
A Polícia Federal brasileira identificou o vereador Carlos Bolsonaro, filho do Presidente, Jair Bolsonaro, como um dos líderes de um esquema ilegal de desinformação, segundo uma investigação sigilosa conduzida pelo Supremo Tribunal Federal, divulgada pela imprensa local.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, o inquérito foi aberto em março do ano passado pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, para apurar o uso de notícias falsas para ameaçar e caluniar juízes daquele tribunal.
O jornal detalha ainda que Carlos, segundo filho do chefe de Estado, é investigado por suspeita de ser um dos líderes do grupo que cria e divulga notícias falsas, de forma a intimidar e ameaçar autoridades públicas na internet.
A Polícia também investiga a participação no esquema do seu irmão e deputado federal, Eduardo Bolsonaro.
A informação surge um dia após o ministro demissionário da Justiça do Brasil, Sergio Moro, que na sexta-feira acusou o Presidente brasileiro de querer acesso privilegiado a investigações judiciais, ter exibido alegadas provas das suas acusações contra Jair Bolsonaro.
Sergio Moro mostrou, na noite de sexta-feira à TV Globo, uma alegada troca de mensagens entre si e Jair Bolsonaro, datada de quinta-feira, na qual Bolsonaro pretendia uma mudança no comando da Polícia Federal, justificando a necessidade da medida com uma investigação em curso contra deputados aliados do chefe de Estado.
Na conversa enviada por Moro à Globo, o Presidente enviou ao ex-juiz uma hiperligação de uma reportagem do ‘site’ “O Antagonista”, dando conta que a Polícia Federal suspeitava do envolvimento de “dez a 12 deputados bolsonaristas” em relação a um grupo de disseminação de notícias falsas nas redes sociais ligado ao vereador Carlos Bolsonaro, um dos filhos do mandatário.
A acompanhar a hiperligação, Bolsonaro escreveu: “Mais um motivo para a troca”, referindo-se ao seu desejo de mudança na direção da Polícia Federal, cuja liderança estava a cargo de Maurício Valeixo, exonerado na manhã de sexta-feira.
Nessa troca de mensagens, Moro argumentou a Bolsonaro que a investigação em andamento não tinha sido movida por Mauricio Valeixo, acrescentando que esse inquérito estava a ser conduzido pelo juiz do STF Alexandre de Moraes.
Moro anunciou na manhã de sexta-feira a demissão do cargo que ocupava desde janeiro do ano passado, justificando a sua saída do Governo com o facto de Bolsonaro ter exonerado o ex-chefe da Polícia Federal do país Maurício Leite Valeixo para “interferir” nas investigações da instituição.
“O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente”, declarou Sergio Moro.
O ex-juiz declarou que Bolsonaro lhe disse pessoalmente que queria mudar o chefe geral da Polícia Federal porque estava preocupado com investigações em curso no STF, que poderiam envolver os seus filhos ou aliados políticos, e queria ter acesso a relatórios sigilosos sobre investigações.
Contudo, a divulgação de uma eventual ligação de Carlos Bolsonaro a grupos difusores de ‘fake news’ já remonta ao final do ano passado, quando a deputada brasileira Joice Hasselmann, ex-líder do Governo de Jair Bolsonaro no congresso, denunciou um esquema de notícias falsas, ligado ao atual Presidente, e que funcionaria na sede da Presidência.
Em dezembro, Hasselmann prestou depoimentos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) às ‘fake news’, instaurada pelo Congresso brasileiro, e declarou a existência de um grupo que, segundo a deputada, ficou conhecido como “gabinete do ódio”, tendo como mentores o vereador Carlos Bolsonaro e o deputado Eduardo Bolsonaro, ambos filhos do atual chefe de Estado do Brasil.
“Qualquer pessoa que eventualmente discorde [da família Bolsonaro] entra como inimigo da milícia”, disse, acrescentando que o grupo atua com uma estratégia bem definida e organizada, começando com uma lista de pessoas consideradas “traidoras” e que são escolhidas como alvo dos ataques cibernéticos.