Em tempos de pandemia, a Revolução cantou-se à janela
No Funchal a adesão à iniciativa foi praticamente nula, à excepção da sede do PCP
Em tempos de pandemia, Portugal comemorou hoje o 25 de Abril à janela e ao início da tarde cantou-se ‘Grândola Vila Morena’, de Zeca Afonso, numa manifestação que acabou por ser algo ‘tímida’ em vários pontos do país.
O repto para os portugueses irem à janela e cantarem a ‘Grândola Vila Morena’, uma das ‘senhas’ da Revolução de 1974, partiu da Associação 25 de Abril, que cancelou o habitual desfile na Avenida da Liberdade, em Lisboa.
Pontualmente, às 15 horas, o presidente da associação, o antigo capitão de Abril Vasco Lourenço, surgiu à janela de sua casa e, do 5.º andar de um prédio na freguesia do Areeiro, em Lisboa, cantou ‘Grândola, Vila Morena’ com um cravo vermelho na mão.
A poucos quilómetros, em frente à sede do PCP, o secretário-geral comunista, Jerónimo de Sousa, repetiu o gesto. Da varanda da sede do BE, na Rua da Palma, a coordenadora do partido, Catarina Martins, também cantou Zeca Afonso, antes de entoar ‘A Portuguesa’.
Pelos bairros da capital, conforme constatou a Lusa, também se foi cantando, em alguns casos com mais barulho, como em Alvalade, onde um morador da Avenida dos Estados Unidos da América colocou uma coluna à janela a dar o ‘mote’ para as dezenas de vizinhos que estavam à janela acompanharem a canção de Zeca Afonso.
Na vizinha freguesia do Areeiro, um morador colocou a ‘Grândola, Vila Morena’ a tocar em ‘loop’ na varanda e, a cada repetição, os vizinhos iam batendo palmas.
Na Avenida Miguel Bombarda, na freguesia de Nossa Senhora de Fátima, agitaram-se cravos e cantou-se a ‘Grândola’ e o hino nacional, com a ‘ajuda’ de um megafone de um sindicato.
Depois das comemorações oficiais no parlamento realizadas durante a manhã, nas casas em frente a São Bento também se cantou em algumas varandas.
No Bairro de Inglaterra, nos Anjos, a adesão à iniciativa não foi muito grande, com pouco mais de uma dezena de pessoas nas janelas e apenas algumas a cantarem.
Na freguesia de Queijas e Barcarena, no concelho de Oeiras, algumas ruas tinham também colunas de som que reproduziram a música de Zeca Afonso depois de a sirene dos bombeiros ter assinalado as 15 horas.
Na zona de Alfragide, concelho da Amadora, os moradores juntaram as suas vozes à canção que saía de um potente altifalante, batendo palmas no final e gritando, depois, as palavras de ordem “25 de Abril, sempre!”.
Na Charneca da Caparica, no concelho de Almada, o 25 de Abril começou a ser assinalado ainda antes da meia-noite, com uma carrinha a passar pelas ruas completamente desertas a tocar a primeira ‘senha’ da Revolução, “E depois do Adeus”. Hoje, pelas 15 horas, foi cantada a segunda ‘senha’, antes das palmas dos moradores.
Em Vila Franca de Xira, a Câmara instalou colunas de som pela cidade e algumas dezenas de “cantores de improviso” juntaram-se ao apelo para cantar Zeca Afonso. Noutra cidade do concelho, em Alverca, também houve música e alguns agitaram as bandeiras de Portugal.
Pelo Alentejo, em Grândola, o presidente da autarquia, António Figueira Mendes, também cantou Zeca Afonso a partir de uma das janelas dos Paços do Concelho.
Mais no interior, em Portalegre, funcionários do hospital abriram janelas e cantaram.
No distrito de Évora, às 15 horas, as ruas da vila de Viana do Alentejo estavam praticamente desertas, mas o silêncio na Praça da República foi quebrado pelo som que saia das colunas colocadas na parede de um edifício e pelas vozes de cerca de uma dezena de pessoas.
Em Beja, Serpa e Vidigueira também algumas dezenas de pessoas, em casa ou na rua, cantaram, algumas com cravos vermelhos nas mãos.
Mais a norte, no centro da cidade de Vila Real, altifalantes colocados em janelas junto ao antigo Governo Civil e à Câmara Municipal faziam ecoar Zeca Afonso.
Em Braga, Zeca Afonso também se ouviu a partir de colunas colocadas em varandas, mas foram poucos os vizinhos a juntarem-se no ‘coro’.
Por Viseu, no Rossio, ouviu-se a gravação da canção de Zeca Afonso, saída de um carro de um sindicato, mas pelas principais ruas do centro não se via ninguém à janela.
Em Paredes, no distrito do Porto, o apelo da Associação 25 de Abril parece não ter chegado e as varandas ficaram invariavelmente desertas, um pouco à semelhança do que aconteceu em Leiria, onde o silêncio apenas era pontualmente quebrado numa ou noutra janela.
Na Lousã, no distrito de Coimbra, a canção de Zeca Afonso ouviu-se sobretudo na vila, com várias famílias a aparecerem à janela pelas 15 horas.
Noutro ponto do distrito, na Figueira da Foz, um militar de Abril, Góis Moço, agora coronel na reforma, ‘contagiou’ os vizinhos que o acompanharam a cantar à varanda.
A tradição também se cumpriu na Covilhã, onde, pelas 15 horas, na Rua Direita, se ouviu a ‘Grândola, Vila Morena’, mas na Guarda foram poucos os moradores do centro da cidade a abrir as janelas.
No Funchal, militantes e simpatizantes do PCP cantaram em frente à sede regional do partido, mas pela cidade a adesão à iniciativa foi praticamente nula.