1973 - O ano anterior à Liberdade e a falsa abertura do Regime
Em 1973, realizou-se em Aveiro O Congresso da Oposição Democrática, em tempo de farsa eleitoral, na chamada «abertura» marcelista tendo sido considerada a situação politica nos seguintes termos:
1. Agravamento da situação económica que, no fim de 1973, segundo o relatório da OCDE Portugal teve a taxa de inflação de 20.6%;
2. Crescente isolamento interno do regime;
3. Crescente isolamento internacional;
4. Amadurecimento das condições que porão, na ordem do dia, o fim da Guerra Colonial e uma solução política para o problema;
5. O novo ascenso da luta das massas populares do movimento democrático.
O Congresso terminou com enorme repressão da GNR e a imprensa foi obviamente censurada e amputada.
O discurso de Maria Barroso teve golpes dos « coronéis censores» de que se destaca a citação de Bento Jesus Caraça «a primeira coisa a fazer para sermos gente é extrair o medo dos corações dos portugueses fazendo deles homens generosos e fortes, libertos da grilheta e da mais aviltante das servidões».
Também Pereira de Moura viu riscada a seguinte citação: «Mas a incompatibilidade verificada entre a política ultramarina e a supressão das liberdades democráticas em Portugal e as exigências da CEE em matéria política limitam radicalmente as possibilidades de adesão, comprometendo assim a estratégia de Marcelo Caetano».
Foi para o caixote do lixo as referências aos presos políticos de Caxias que pediam convívio entre os detidos ,mais visitas em comum, parlatórios sem vidros e refeitórios em comum .
A censura, arma que molda a informação, foi demasiado feroz no ano de 1973 apesar da dita « abertura» do Regime.
Cunhal dá uma entrevista ao Expresso mas a mesma não foi publicada.
A DGS, designação moderna da PIDE, instruiu um processo contra Mário Soares ( que estava no exílio em Paris) por este ter dado uma entrevista a um semanário francês.
Foi proibida a notícia sobre «o estudante e publicista Saldanha Sanches, acusado num processo da DGS remetido a Tribunal»
À vida foi ,mais de metade da carta sobre a Diocese do Funchal, há quase 2 anos sem Bispo.
Um relatório da PSP dava conta da prisão de 151 jovens do ensino secundário de Lisboa em Dezembro de 1973.
Foram proibidas as notícias sobre temas militares, sobre a prisão de Santa Clara Gomes da Sedes, sobre a morte do estudante de económicas Ribeiro dos Santos. Sobre o arquivamento do processo do agente da PIDE que matou Ribeiro dos Santos nada saiu.
A demissão do Director da Faculdade de Medicina «depois dos incidentes registados na FML e tendo como base a forma como os mesmos foram efectuados» ,teve como destino o «lápis azul».
Durante uma das incursões á revista « O Tempo e Modo» , foi detido um colaborador ,o qual, internado em Caxias , passou nas mãos dos «zeladores» do regime.
O aumento de 20% no preço dos adubos e a abertura para o mercado livre no princípio de julho ficou reduzido a « aumento de preços dos adubos».
Pela quarta semana consecutiva a coluna «Visto» de Sá Carneiro, «deputado da ala liberal do partido único ANP foi tão borrado de azul que nada saiu.
Até a guerra de Champalimaud com o governo sobre as cimenteiras levou cortes.
De Moçambique foram retiradas as declarações de Costa Gomes que evidenciam certas preocupações específicas , de certo relacionadas com
As reacções da população aos últimos ataques da Frelimo na região de Vila Pery e Inhaminga.
Não passou a notícia sobre Moçambique « a proporção de médicos por habitante é de um por 60 mil habitantes ,estando por isso ,o governo provincial decidido contratar médicos estrangeiros».
A notícia que dois padres em Moçambique se recusaram integrar as fileiras do exercito como capelães e foram detidos não passou no crivo dos coronéis
Também não passou sem um longo corte, a notícia do caso da Capela do Rato ,a propósito da celebração do Dia da Paz e também a homilia do Padre Mário. Ao fim de 11meses de prisão foi liberto o padre Mário da lixa, que tinha sido preso num café quando estava reunido com outros sacerdotes.
Sobre o julgamento de Carlos Costa, o texto do novo julgamento adiado, não passou o seguinte «de um modo geral a nota acusatória é pouco pormenorizada e a sua reduzida extensão contrasta com o dilatado prazo de 17 anos de prisão atribuído á actuação de ser quadro do P.C.P.»
Marcelo Rebelo de Sousa, sobre o balanço político do ano, levou 24 golpes dos « zeladores» do regime de seu padrinho Marcelo Caetano. Destaca-se «A CDE fez a defesa da independência imediata do ultramar mediante negociações; Moçambique foi palco de acontecimentos menos bem sucedidas do que Angola; Spínola conta com um corpo de jovens oficiais que o apoia».
A questão do diploma ( decreto lei 353/73 de 13 de Junho)que permitia que os oficiais do quadro dos milicianos ficassem em vantagem ,sobre os militares do quadro que frequentaram a Academia Militar e as exposições de serem reconhecidos os seus direitos, nada foi publicado, mas, foi através deste movimento de oficiais do quadro que foi criado o MFA e que a 25 de Abril de 1974 restituiu a liberdade aos portugueses e a independência das colónias.