Vice-presidente do Brasil considera negativa saída de Sergio Moro do Governo
O vice-presidente do Brasil, Hamilton Mourão, considerou hoje negativa a demissão de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça, afirmando que o ex-juiz estava a desenvolver “um bom trabalho” no Governo.
Referindo que o Moro era “muito bom e excecional” e que “vinha a fazer um bom trabalho”, Hamilton Mourão acrescentou, em declarações ao jornal Folha de S.Paulo: “Mas relação é relação. Não é bom, mas a vida segue”.
Mourão, um general da reserva, defendeu que o ex-juiz da Lava Jato, maior operação contra a corrupção do Brasil, é “um nome “importante” e “respeitado”, e que a sua saída do executivo é uma perda.
O ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, anunciou hoje, durante uma conferência de imprensa, em Brasília, capital do Brasil, que pediu a demissão do cargo que ocupa desde janeiro do ano passado.
Moro acusou o Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, de estar a fazer uma “interferência política na Polícia Federal”, na sequência da demissão do ex-chefe da Polícia Federal do país Maurício Leite Valeixo, publicada hoje de manhã no Diário Oficial da União.
O governante demissionário afirmou que Bolsonaro exonerou a liderança da Polícia Federal porque pretende ter acesso às investigações judiciais, algumas das quais envolvem os seus filhos ou aliados.
“O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente”, declarou Sergio Moro.
Falando aos jornalistas na sequência da demissão do chefe geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, que estava subordinado a Moro, o ministro demissionário frisou que deixa o cargo porque Bolsonaro não cumpriu a promessa que lhe fez de que não iria interferir na autonomia da Polícia Federal e do Ministério da Justiça.
Em primeiro lugar, “houve uma violação da promessa que me foi feita de carta branca [não interferência], em segundo lugar não havia uma causa [para a demissão de Valeixo]”, explicou Sergio Moro.
“Ficou claro que estaria a haver uma interferência política na Polícia Federal, o que gera um abalo e uma queda de credibilidade, não [em relação] a mim, mas ao Governo”, esclareceu.
O ex-juiz declarou que o Presidente brasileiro lhe disse pessoalmente que queria mudar o chefe geral da Polícia Federal porque estava preocupado com investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), que podem evolver os seus filhos ou aliados políticos, e queria ter acesso a relatórios sigilosos sobre investigações.
“Realmente não é o papel da Polícia Federal prestar este tipo de informação. A investigação tem de ser preservada. Imagine se durante a própria Lava Jato a ex-presidente Dilma [Rousseff] ou o ex-presidente Luiz [Inácio Lula da Silva] ligassem para o superintendente [da Polícia Federal] em Curitiba para colher informações sobre as investigações em andamento”, disse o ministro, que coordenou a operação judicial Lava Jato que visou vários políticos, entre os quais aqueles antigos chefes de Estado.
Moro foi um dos principais membros do Governo brasileiro e mantinha uma popularidade maior do que a do próprio chefe de Estado, com quem entrou em conflito algumas vezes, incluindo numa tentativa anterior de exoneração de Valeixo, em agosto do ano passado.