Médicos alertam para efeitos do vírus após recuperação
Os doentes que foram internados em cuidados intensivos devido à covid-19 e que recuperaram podem sofrer efeitos persistentes do vírus, que danifica os pulmões mas também outros órgãos, segundo um artigo hoje publicado na revista Science.
“O problema que mais enfrentaremos nos próximos meses é o de como vamos ajudar essas pessoas a recuperar”, diz Lauren Ferrante, pneumologista da Faculdade de Yale, Estados Unidos.
A covid-19 danifica não apenas os pulmões mas também os rins, os vasos sanguíneos, o coração, o cérebro e outros órgãos, segundo a revista, que acrescenta que são ainda desconhecidos os problemas a longo prazo causados pelo novo coronavírus, que provoca a doença covid-19.
A especialista diz que a maioria dos doentes que estiveram ligados a ventiladores poderá recuperar a sua função pulmonar, mas que outros podem ficar com problemas respiratórios durante muito tempo.
“Após qualquer caso grave de pneumonia, uma combinação de doenças crónicas subjacentes e inflamações prolongadas parece aumentar o risco de outras doenças, incluindo ataque cardíaco, derrame e doença renal”, diz Sachin Yende, epidemiologista da Universidade de Pittsburgh, também nos Estados Unidos.
E Dale Needham, da Universidade Johns Hopkins (EUA), acrescenta que os doentes que passam algum tempo em cuidados intensivos, independentemente da doença que os leva lá, também são propensos a um conjunto de problemas de saúde física, cognitiva e mental, depois de saírem.
Doentes com longos períodos de ventilação são propensos a atrofia e fraqueza muscular, e correm ainda o risco de delírio, até por causa dos sedativos a que são sujeitos.
Terri Hough, médico de cuidados intensivos pulmonares da universidade norte-americana de Washington, diz que se as pessoas não devem ser colocadas com ventiladores mais tempo do que o necessário, porque tal afeta-lhes a saúde após a recuperação.
O novo coronavírus, que provoca a doença covid-19, já provocou mais de 200 mil mortos e infetou mais de 2,7 milhões de pessoas em 193 países e territórios, segundo um balanço da AFP.
Em Portugal, morreram 854 pessoas das 22.797 confirmadas como infetadas, e há 1.228 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.