Cinemateca Portuguesa disponibiliza documentos on-line sobre a Revolução
A Cinemateca Portuguesa disponibiliza ‘online’ um conjunto de documentos de arquivo, alusivos ao 25 de Abril, entre hoje e 14 de maio, para comemorar o 46.º aniversário da Revolução dos Cravos, anunciou hoje aquela instituição.
“Nos 46 anos da Revolução dos Cravos, a Cinemateca Portuguesa vai disponibilizar em linha um conjunto de documentos das suas coleções dedicados ao tema”, lê-se no comunicado agora divulgado.
“O especial 25 de Abril da iniciativa ‘Gestos & Fragmentos’”, que vai buscar a designação ao filme homónimo de Alberto Seixas Santos, está disponível a partir de hoje, permitindo visualizar “alguns filmes realizados entre 1974 e 1977 em Portugal”, na plataforma 25deabril.cinemateca.pt.
Entre os filmes já disponíveis estão “A Fuga”, de Luís Filipe Rocha, produção de 1976 baseada na fuga solitária de Dias Lourenço, preso político do Forte de Peniche, durante a ditadura, e “Brandos Costumes”, de Alberto Seixas Santos, um drama rodado em 1972/73, antes do 25 de Abril, no contexto do segundo plano de produção do Centro Português de Cinema, e que só teve estreia depois da Revolução, em setembro de 1975.
“Brandos Costumes” tem argumento de Alberto Seixas Santos, Luíza Neto Jorge e Nuno Júdice, e direção de produção de Henrique Espírito Santo e Jorge Silva Melo.
Os documentários disponíveis incluem “Liberdade para José Diogo” (1975), de Luís Galvão Teles, testemunho do espírito da luta de classes da época, sobre o operário agrícola alentejano que matou o latifundiário para quem trabalhara como tratorista, “Cenas da Luta de Classes em Portugal”, do norte-americano Robert Kramer, concluído em 1976, e “O Outro Teatro ou as Coisas Pertencem a Quem as Torna Melhores” (1976), de António de Macedo e Manuela Moura, “sobre a realidade renovadora do teatro português dos anos setenta, anterior e posterior ao 25 de abril de 1974”.
“Terra de Pão, Terra de Luta” (1977), de José Nascimento, com comentário de Vítor Matias Ferreira e locução de Joaquim Furtado, é outra produção disponível. O documentário acompanha o processo da Reforma Agrária e é “um dos grandes clássicos do cinema mais militante da Revolução”, segundo a Cinemateca.
A programação inclui ainda “A Lei da Terra” (1977), do coletivo Grupo Zero, outra abordagem da Reforma Agrária, retratada “nas suas dimensões política, social e económica, com recurso à perspetiva histórica e ao seu respetivo comentário em off a duas vozes (uma masculina e outra feminina)”, com preocupações didáticas.
O Grupo Zero incluía nomes como Acácio de Almeida, Alberto Seixas Santos, Fernando Belo, Joaquim Furtado, José Luís Carvalhosa, Leonel Efe, Lia Gama, Paola Porru, Serras Gago, Solveig Nordlund e Teresa Caldas.
“O Meu Nome É...” (1978), de Fernando Matos Silva, com Rui Mendes, Orlando Ramos e Margarida Gouveia Fernandes, refelexão sobre as manifestações populares do 25 de Abril de 1974, fecha a lista de filmes disponíveis a partir de hoje.
Apesar de este ‘microsite’ estar disponível ‘online’ entre hoje e 14 de maio, três longas-metragens vão estar disponíveis durante um período específico, na categoria “Filmes para ver esta semana”: “Brandos Costumes” (até 30 de abril), “Gestos & Fragmentos” (01 a 07 de maio) e “Colonia e Vilões” (08 a 14 de maio).
“Gestos & Fragmentos: Ensaio sobre os Militares e o Poder” (1982), com Otelo Saraiva de Carvalho, Eduardo Lourenço e Robert Kramer, conjuga áreas narrativas sobre sobre a revolução, vista após o chamado “Verão Quente” e o 25 de novembro, tomando como pilar “Os Militares e o Poder”, de Eduardo Lourenço.
“Colónia e Vilões”, de Leonel Brito, é um documentário sobre o ‘contrato de colónia’ na ilha da Madeira, forma de exploração de trabalhadores agrícolas, com origens medievais, que persistiu, mesmo após o 25 de Abril de 1974.
Leonel Brito investiga a história da colonização da ilha e as forças económicas e sociais que a moldaram, recorrendo a várias fontes documentais, incluindo imagens cinematográficas de arquivo.
No conjuntos, estes filmes “são exemplos de como um cinema de forte pendor militante, protagonizado muitas vezes por cooperativas cinematográficas como a Cinequanon, Cinequipa ou o Grupo Zero, entre outras, retratou um país saído de uma longa ditadura”, escreve a Cinemateca.
Os filmes são acompanhados pelas “folhas” de sala, normalmente distribuídas em cada sessão da Cinemateca.
“As comemorações do 25 de Abril pela Cinemateca passam também pela RTP, com a exibição da versão recentemente restaurada pela Cinemateca do filme ‘As Armas e o Povo’, um dos títulos fundamentais da filmografia de Abril”. O documentário será emitido no sábado, dia 25 de Abril, “em horário nobre (às 22:00) no primeiro canal da estação pública”.
A Cinemateca também disponibiliza dois filmes para “os mais novos”: “Se a Memória Existe” (1999), curta-metragem de João Botelho, estreada no Festival de Veneza, e “Amanhã” (2004), de Solveig Nordlund, com diálogos da realizadora e da escritora Eduarda Dionísio.
O primeiro filme conta com a participação de muitos Capitães de Abril, que leem “O Tesouro”, de Manuel António Pina, a uma menina (a filha do realizador), que assim “descobre” o que foi a Revolução dos Cravos.
O filme de Solveig Nordlund fala de uma criança, na madrugada de Abril de 1974, e do seu “Amanhã”, 20 anos mais tarde, jovem adulto, que se encontra no Largo do Carmo, frente a frente com a lápide de homenagem ao capitão Salgueiro Maia.
Neste Abril da Cinemateca, está também disponível o Jornal Cinematográfico Nacional, série de atualidades produzida pelo Instituto de Cinema Português, entre 1975 e 1977, que hoje testemunha acontecimentos da época e, em simultâneo, o trabalho de recuperação que está a ser feito no laboratório da Cinemateca.
Nesta área do ‘site’ da Cinemateca encontram-se igualmente textos documentais, “25 de Abril Imagens”, publicado pela Cinemateca Portuguesa, em 1984 (”Que imagens ficaram do 25 de Abril? Como é que o 25 de Abril foi vivido em imagens?”), e uma Cronologia da Atividade nos Cinemas, que desta vez inclui o dossier “Cinema: Não à censura”, do número da antiga revista Cinéfilo, publicado em maio de 1974, pouco mais de uma semana após a queda da ditadura e do termo da censura.