Haverá dinheiro suficiente?
O maior problema é que quem precisa de ajuda financeira é quem paga os impostos: empresas e famílias.
Hesitei entre escrever ou não este artigo. O tempo é de más notícias à volta do mesmo tema. Encontrar perspectiva de facilidades e boa disposição nesta tragédia global é impossível. Pelo menos entre gente responsável ocupada em minorar os muitos e pesados efeitos da pandemia. Uma palavra de gratidão desde logo para o governo regional e todos os profissionais de saúde que, com grande risco, enfrentam e desafiam as consequências da pandemia. Sei bem, pois tenho filha neste grupo sob ameaça.
Não tendo conhecimento e informação, científica e técnica, para debater e opinar sobre a doença, vou escorregar pelo tema económico e financeiro que estamos a viver.
Talvez seja mais previsível os efeitos na saúde pública que na economia. Tanto a doença como a economia não têm cura nem vacina conhecida. Talvez o nosso comportamento pudesse minorar as consequências de ambas mas, mesmo conhecedores das práticas dissuasoras, cedemos no seu cumprimento. Com graves perigos para a sociedade em geral.
Só há uma atitude a assumir: viver como se suspeitássemos de nós próprios estarmos infectados.
Estamos vivendo um período de grande incerteza económica e financeira. Total imprevisibilidade relativamente ao futuro. A tal ponto que, até agora, tanto a nível europeu como nacional e regional, apenas se concederem empréstimos que mantêm a vida das empresas mas não resolvem nada. Mesmo nada. As que apenas viverem de empréstimos terão um fim próximo. Esta é uma regra de todos os tempos, não apenas dos períodos com mercados parados em recessão.
Não se podem substituir receitas por empréstimos.
Não vai ser possível, mesmo que a economia regresse ao nível de 2019, arranjar receitas para suportar os custos correntes das empresas e ainda pagar os empréstimos do período sem negócio. Ninguém tem margem de lucro para tanta sobrecarga de despesa. O mercado regional é pequeno e muito concorrencial não permitindo tanta margem. Se as empresas tivessem esse fôlego os nossos empresários eram todos de grande sucesso. E infelizmente não é assim. A maioria faz muitos sacrifícios.
Os empréstimos são para novas ideias e projectos inovadores e, quanto muito, para substituir temporariamente vendas actuais com cobrança posterior. Nunca para substituir vendas que não se fizeram.
Os governos sabem disto, como sabem muito bem as instituições europeias. A Alemanha não pode ter esquecido que a sua reconstrução pós-guerra beneficiou de um plano Marshall, concebido a partir de uma doação americana de 100 biliões de dólares (valores actuais), para revitalização da economia europeia. Não é um risco para a economia alemã a ressurreição das frágeis economias do sul europeu.
A saída da grande depressão dos Estados Unidos, na década de 20 do século anterior, foi toda ela feita à conta de investimento público. A ajuda americana de 1948 à reconstrução europeia foi totalmente a fundo perdido. A solução para a actual recessão não pode deixar de ser um misto entre uma reinvenção do modelo keynesiano e a doação pública às empresas que possam manter os empregos e a sua dinâmica anterior.
Tudo o que já está anunciado é bom, prolonga a vida, mas não é suficiente na perspectiva do médio e longo prazo.
É preciso dinheiro. Muito dinheiro mesmo. Que não há, tanto em Portugal como na Madeira, onde as receitas são na maioria fiscais e, está fácil de perceber, que quem as paga são quem delas precisa: empresas e famílias. Não se pode pedir o pagamento de impostos a quem passa por dificuldades, em muitos casos extremos, e tem a sua sobrevivência dependente dessa receita.
A verdadeira pescadinha de rabo na boca a exigir solução europeia global, porque nenhum país membro vai poder pagar a sua dívida.
As empresas terão de sobreviver com três prioridades simultâneas: redução de custos, manutenção do negócio e ajuda pública. As duas primeiras justificarão a terceira e a manutenção dos postos de trabalho. Se como se está a querer acreditar, que em dois ou três anos a recuperação poderá ser quase total, então será muito mais razoável cedermos todos um pouco neste período do que dividirmos a sociedade entre os que são dispensáveis para que os outros mantenham o estatuto e regalias anteriormente ganhas. Todos têm de caber na cura desta pandemia económica e respectiva epidemia financeira. Porque sem dinheiro não há economia e, sem esta, não há satisfação social.
Não posso deixar de trazer a este escrito a atitude miserável do partido comunista português e de sindicatos por si controlados. Em parte justifica o quase desaparecimento do seu registo político e sindical. Prestes a se extinguirem, como aconteceu em toda a Europa, continuam a vomitar por cartilhas fora de uso e imperceptíveis pela actual juventude e trabalhadores activos. Num momento em que todos procuramos ajudas e soluções, essas criaturas vociferam por exigências que qualquer pessoa, normal e de bom senso, estranha ouvir. Hoje, entre trabalhadores e chefias, existe tal cumplicidade e entendimento sobre o papel da sua empresa na sociedade e no mercado que dispensa palpites dos abutres externos. As soluções estão dentro das empresas. As boas saídas para as dificuldades são as que encontram bom acolhimento na generalidade dos colaboradores das empresas. Estes querem acautelar a perspectiva de médio e longo prazo da empresa que os integra profissionalmente até à justa reforma. E muitas vezes para além desta. Na empresa ninguém dá opinião ou trabalha para ser eleito em qualquer eleição próxima. Nada disso. Isso, é para os parasitas armados de esquerda e auto-intitulados defensores dos trabalhadores. Os que nada produziram, promoveram ou venderam. Andam na política para se elegerem a si próprios. No máximo um ou dois de cada vez. Esta é a razão da sua política.
Nas empresas impera o sentido construtivo do seu percurso. O assegurar da sua viabilidade e sucesso como garantia da segurança profissional de cada um. Apoiar a dinâmica das empresas é, cada vez mais, factor de avaliação dos governos. É natural que os trabalhadores se revejam nas políticas de sucesso económico que se traduzam no bem-estar generalizado. E os períodos de governação duradouros, em democracia, não são mais do que reconhecida satisfação social. Mesmo quando se atravessam crises globais e os recursos são escassos.
Nota 1: o lay-off travou o despedimento generalizado e faz transferir de Lisboa para a Madeira cerca de 50 milhões de euros de subsídio, a fundo perdido, da Segurança Social. Nada custa ao nosso orçamento regional. É dinheiro extra que para cá vem e anima a nossa paralisada economia. Quanto mais melhor. Porque evitar ?
Nota 2: a TAP merece o tratamento que A.A. Jardim sempre propôs: fechar e começar de novo. A TAP deve servir para trazer turistas para Portugal. Não para levar portugueses de férias para o Brasil. A maior causa da sua aflição financeira é devida a esta segunda fantasia. Uma “golpada” que correu mal. Não devia ter acontecido. Uma gestão brasileira para ajudar a economia do Brasil. E, agora, quem paga ? Só podem ser os sócios na respectiva proporção.