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Violência policial durante recolher obrigatório no Quénia fez seis mortos

Foto Yasuyoshi CHIBA / AFP
Foto Yasuyoshi CHIBA / AFP

Pelo menos seis pessoas morreram no Quénia devido à violência policial durante os primeiros dez dias do recolher obrigatório determinado em 27 de março para conter a propagação da covid-19, denunciou hoje a organização Human Rights Watch (HRW).

“A polícia, sem qualquer justificação aparente, disparou e espancou pessoas nos mercados ou quando regressavam do trabalho” e “mesmo antes do início do recolher obrigatório diário”, lê-se no comunicado através do qual a HRW expôs a situação.

Logo em 27 de março, na cidade costeira de Mombaça, mais de duas horas antes da entrada em vigor do recolher obrigatório, a polícia espancou com bastões a multidão que estava prestes a embarcar num barco a caminho de casa, utilizando gás lacrimogéneo e obrigando-os a deitar-se no chão sem respeitar a distância social.

“A brutalidade policial não é apenas ilegal, é também contraproducente na luta contra a propagação do vírus”, afirmou Otsieno Namwaya, investigador sénior da HRW para África.

De acordo com entrevistas telefónicas a 26 testemunhas, familiares e vítimas destes abusos, a polícia aplicou violentamente o recolher obrigatório, “disparando, espancando e extorquindo” quenianos.

Um dos seis mortos é Yassin Hussein Moyo, 13 anos, que foi baleado no estômago no dia 31 de março, enquanto observava, a partir da varanda da sua casa, na favela de Kiamaiko, Nairobi, a polícia a patrulhar as ruas durante o recolher obrigatório.

Segundo testemunhos recolhidos pela HRW, a polícia também utilizou munições reais nos condados de Busia e Kakamega, na parte ocidental do Quénia, matando um vendedor de tomate que foi fatalmente atingido por uma lata de gás lacrimogéneo e espancando mortalmente um outro homem.

Um jovem taxista também morreu de ferimentos causados por um espancamento policial na Baía de Homa, no oeste do Quénia, e dois outros morreram no condado de Kwale, região costeira, depois de terem sido brutalmente espancados por agentes da polícia, segundo testemunhas.

No comunicado, a HRW também denunciou a longa história de uso excessivo da força por parte dos funcionários quenianos responsáveis pela aplicação da lei, quer durante as rusgas a colonatos informais, quer através da repressão violenta de manifestações, bem como a impunidade com que cometem esses atos.

“Embora muitos assassinatos cometidos pela polícia tenham sido bem documentados, tanto por instituições estatais como por organizações de direitos humanos, os agentes raramente têm sido responsabilizados”, lamenta esta organização não governamental, que apela ao fim desses abusos e pede uma investigação exaustiva das mortes.

O Quénia tem 296 casos da covid-19 e 14 mortes.

O número de mortes provocadas pela covid-19 em África subiu para 1.191 nas últimas horas, com mais de 24 mil casos registados da doença em 52 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia naquele continente.

A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 176 mil mortos e infetou mais de 2,5 milhões de pessoas em 193 países e territórios.

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