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BPI e Santander Totta consideram que moratórias de 6 meses serão insuficientes

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Responsáveis do BPI e do Santander Totta consideraram hoje que poderá ter de haver novas moratórias dos crédito após setembro, uma vez que apenas seis meses de moratórias deverão ser insuficientes.

“Se a situação não estiver melhor, tem de haver nova moratória, quer pública, quer por parte da Associação Portuguesa de Bancos”, disse hoje o presidente do Santander Totta, Pedro Castro e Almeida, em audição perante os deputados das comissões de Economia e Orçamento.

O responsável mostrou-se, sobretudo, preocupado com a capacidade de as empresas honrarem o serviço de dívida face à crise económica.

Também o administrador do BPI Pedro Barreto, que hoje também esteve a responder às questões dos deputados, considerou que as moratórias impostas pelo Governo, até setembro, “podem não ser suficientes”.

Contudo, sobre a sua prorrogação, disse que provavelmente terá de ser avaliado setor a setor, pelo que é normal que “quem tem de decidir queira esperar antes de tomar uma decisão”.

“Uma crise desta natureza vai levar ao aumento do crédito vencido na economia, isso parece-me inevitável, infelizmente”, afirmou.

Os bancos e as entidades que analisam o setor - como agências de ‘rating’ - estão a prever um aumento do crédito malparado devido à crise provocada pela pandemia covid-19, o que poderá acontecer já a partir de outubro com o fim, em setembro, das moratórias impostas pelo Governo para crédito à habitação e crédito a empresas (com suspensão de pagamento de capital e/ou juros).

O presidente do Santander Totta estimou hoje que nos próximos anos os bancos portugueses vão ter de constituir provisões entre dois e seis mil milhões de euros, para fazer face a crédito malparado, isto considerando que em tempos de crise o custo de crédito ronda entre 1% e 3% da carteira de crédito.

Nas audições de hoje no parlamento, que decorreram das 14:00 às 20:30 (hora de Lisboa), os responsáveis de Santander Totta, BPI e BCP também consideraram que será necessário ao Governo tomar mais medidas para ajudar a economia.

Segundo o presidente do BCP, Miguel Maya, a concessão de crédito é quase impossível para empresas que fizeram reestruturações financeiras no passado ou que estão em Processo Especial de Revitalização (PER), uma vez que, pelas regras, esses seriam logo considerados ‘exposição não produtivas’ (NPE - non-performing exposures, na expressão técnica em inglês). Defendeu que haja uma entidade externa que avalie a situação dessas empresas e se são viáveis para que possam aceder a crédito.

“Tem de se encontrar soluções, estamos todos a aprender, porque estamos a viver uma situação não testada”, disse.

O presidente do Santander Totta, por seu lado, disse que no acesso às novas linhas de crédito garantidas pelo Estado é exigido que empresas mantenham postos de trabalho até final do ano e que “isso é algo a que muitos empresários não se podem comprometer”.

Pedro Castro e Almeida mostrou-se também preocupado com empresas de turismo que, nesta crise, são muito penalizadas, pelo que defendeu soluções específicas.

Do BPI, o administrador João Pedro Oliveira e Costa disse que “vários outros agentes têm de vir a terreno dar o seu contributo”, porque “não vai ser possível o setor financeiro sozinho acudir a todas as situações”.

O administrador do BPI questionou se um cinema irá abrir quando se fala de vender bilhetes de duas em duas filas e três em três lugares ou um restaurante de 100 lugares (e despesas a essa escala) que só pode servir 20 almoços.

“Estas questões preocupam-nos a todos e isto tem de ser preocupação de todos e não só de uns”, afirmou.

Miguel Maya, do BCP, considerou que deve ser “aprofundado o modelo de apoio” do Estado às empresas para preservação dos postos de trabalho e que não deve haver “rigidez absoluta”, permitindo o acesso a esses apoios mesmo por empresas que façam “algum despedimento”, uma vez que “preservar emprego é o principal”.

O presidente do BCP considerou mesmo que só com uma solução de financiamento da União Europeia que trate autonomamente a dívida criada pelos Estados para acudir à crise sanitária e económica da covid-19 será possível manter o ‘rating’ da República e dos bancos.

Na quarta-feira, serão ouvidos no parlamento os presidentes da Caixa Geral de Depósitos e do Novo Banco.

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