O turismo em tempos de epidemia
Tenho, como a quase generalidade da população, passado muito mais tempo em casa do que o costume. Tenho notado, na cidade, uma calma e um silêncio que não ouvia há muito tempo – e que, paradoxalmente, me sabe muito bem. Consigo perceber o que procuram os turistas que dizem procurar a “calma da cidade”.
Porque a cidade tem estado tão calma que tenho adormecido com o som do vento a assobiar na estrutura do hotel aqui da vizinhança... nem sequer o cretino que fazia escape livre com a mota ao longo da ribeira de São João todas as madrugadas tem dado um ar de sua graça.
É óbvio que tudo isto tem custos, imagináveis para uns, perfeitamente quantificáveis para outros. A época alta é a fase em que crio reservas para o resto do ano. Este ano não houve, e receio que não vá haver, época alta. E se eu não for capaz de constituir reservas vai haver mais quem não o consiga. E isto quer dizer que há custos, e custos deveras importantes, em todo este processo.
Não estou com isto a dizer que ele era evitável. Antes pelo contrário.
O que defendo é que a retoma deve ser feita devagar e cautelosamente. Por forma a acautelar o valor máximo para todos, que deve ser a saúde e a segurança. Mas também para que se não caia no erro de baixar preços para recuperar quota de mercado. Embora compreenda que para alguns a quota de mercado seja importante (em termos de números de visitantes) defendo que a prioridade deve ser o valor que estes turistas nos trazem.
E o meu apelo vai assim, para responsáveis governamentais, hoteleiros e agentes de viagens: não deixam descer os preços, porque se isso acontecer vamos pagar isso por muitos anos. É melhor fazer crescer as taxas de ocupação devagar, ganhando um valor adequado, do que recuperá-las de uma vez recebendo ninharias. Porque isso não só condiciona o mercado por muitos anos, como atrai turistas que nos interessam menos, como cria a imagem errada.
E contra mim falo – porque são exactamente estes clientes de escalões societais mais baixos que mais provavelmente compram viagens organizadas e que mantêm (mais) ocupados os guias desta terra.