Divórcios aumentam na quarentena, mas há casais que se fortalecem
Fabiano de Abreu diz que a quarentena é o momento propício para uma reflexão sobre a realidade de cada um.
A quarentena mudou a rotina de muita gente em Portugal e no mundo. A actual conjuntura de isolamento social, associada ao teletrabalho instalado em muitas famílias, obrigou muitos casais a conviverem novamente e a compartilharem espaço de uma forma como já não faziam há muito tempo.
Segundo o filósofo e psicanalista luso-brasileiro Fabiano de Abreu, a quarentena pode ser um momento ideal de pausa e avaliação.
“O nosso quotidiano atribulado nos torna, muitas vezes, em seres preguiçosos em relação a nós mesmos e a quem partilhamos a vida. Há uma preguiça instalada nas relações. As pessoas não param para avaliar, para reflectir no porquê de estar com aquela pessoa, se ela ainda nos supre ou simplesmente cedemos ao comodismo”, comenta o psicanalista.
Contudo, Fabiano de Abreu alerta que “não podemos nos entregar à conjuntura, não podemos confundir sentimento com estado emocional”. Contudo, o facto de as pessoas estarem isoladas e de isso aumentar o nível de ansiedade ou de se perspectivarem dificuldades financeiras pode accionar emoções não desejadas que devem “ser filtradas e ponderadas com calma”.
“Este tipo de avaliação deve ser muito cautelosa. As pessoas muitas vezes ficam juntas por conforto e segurança, mas, em tempos de crise, podem acontecer rupturas definitivas. Por vezes, o medo da solidão pode sobressair”, esclarece.
O isolamento pode aproximar
Por outro lado, segundo a linha do filósofo, em alguns casos, ocorre a situação oposta e o isolamento pode acabar por aproximar as pessoa, acabando por fortalecer as relações. Segundo Fabiano, “existem casais que na adversidade se fortalecem, que não cedem aos impulsos e usam o momento para pensar em dupla. Seguem a velha máxima de que uma cabeça pensa melhor que duas e usam a quarentena para delinear estratégias e procurar um ponto de equilíbrio”.
Segundo o filósofo, a quarentena pode ajudar a que o casamento se transforme em algo mais concreto. “Há quem viva um relacionamento abstracto, pois está com a mente totalmente ocupada nos seus afazeres. O concreto é o que define uma linha racional dentro de uma realidade vivida”, explica.
Período de decisão
Por tudo isto, Fabiano de Abreu entende que esstes momentos servem para ter a percepção real daqulio que temos e daquilo que se quer. “Ou o relacionamento está acabado, ou segue mais forte”, pois estes momentos de paragem “obrigam-nos a olhar para as situações”.
O filósofo alerta para outro factor: “o mundo caminha para a solidão. As famílias são cada vez mais pequenas, com menos filhos e há uma individualização instalada”.